quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Deus menino nasceu em Belém

Poema:

Nasci nu, diz Deus,
para que saibas despojar-te de ti mesmo.

Nasci pobre,
para que possas socorrer quem é pobre.

Nasci frágil, diz Deus,
para que nunca tenhas medo de Mim.

Nasci por amor
para que não duvides nunca do meu amor.

Nasci pessoa, diz Deus,
para que nunca tenhas vergonha de ser tu mesmo.

Nasci perseguido,
para que saibas aceitar as dificuldades.

Nasci na simplicidade,
para que deixes de ser complicado.

Nasci na tua vida, diz Deus,
para te levar, a ti e a todos,
para a casa do Pai.


Lambert Noben



Que haja Natal nos vossos corações, queridos leitores, que Jesus nasça verdadeiramente na vossa vida.

Continuação de um bom dia,

Anita.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal

Neste tempo de Natal, há pessoas que questionam se haverá mesmo um Deus, se terá nascido um Deus menino (afinal, é por ele que festejamos o Natal!). Mas também há quem ponha em causa a existência do Pai Natal. Ouvir um adulto a dizê-lo é vulgar, mas é triste quando ouvimos uma criança de 7 anos a dizer que o Pai Natal não existe. É como dizer que o Amor, a Amizade, a Partilha, a Solidariedade (e todos os outros grandes valores) não existem.



Desafio-os a fecharem os olhos, a libertarem e a ouvirem a criança que há em vós dizer-vos esta grande verdade: O Pai Natal existe! Ficaram chocados, meus queridos leitores? Pensam que perdi o juízo de vez? Não... ainda não foi desta pelo menos.



Há muito, muito tempo, uma criança questionou-se sobre isto mesmo. E houve um adulto que lhe não cortou as asas da imaginação, mas fê-la voar para longe... oh! muito longe. Porque a imaginação é como uma andorinha, voa e voa, sem se preocupar com as fronteiras, é livre!



Vamos ouvi-la de novo, para que o consumismo e o "corre-corre" do dia-a-dia não nos faça esquecer que o Natal é abrir o nosso coração e os nossos olhos, abri-lo para Jesus e para tudo o que ele representa: o Amor, a Paz, a Tolerância, a Compreensão, a Paciência, .... E é ver todas as pequenas coisas, e é ver o outro como um outro Eu, e é ajudar quem precisa, e é deixar permanecer em nós esse bocadinho que nos faz ser crianças: esse acreditar em coisas impossíveis, esse ter esperança no amanhã (e no hoje já, porque não?), é esse sonhar acordado e construir outro mundo, um mundo bem melhor.


sábado, 20 de dezembro de 2008

Sobre os dedos...

Provérbio Popular: "Temos cinco dedos na mão e nenhum é igual".


Rimas Infantis:

Este é o dedo mindinho,
este é o seu vizinho,
este é o maioral,
este é o fura-bolos
e este é o mata-piolhos.

Este achou um ovo,
este assou-o,
este comeu-o,
este pediu-lhe dele
e este disse: A mim, a mim,
que sou mais pequenino!



Divirtam-se!!!

sábado, 6 de dezembro de 2008

Oportunidade Única

Palavra de Trapos: As Línguas que os Livros Falam
Conferência sobre Literatura Infantil

Fundação Calouste Gulbenkian

15 e 16/12/2008

09h00 - 18h00
Aud. 2
Entrada livre


15 de Dezembro, Segunda-feira

09h30 Sessão de Abertura
Ministro da Cultura
Fundação Calouste Gulbenkian

09h45 Conferência de Abertura
Manuel António Pina

11h00 Palavras Rimadas
José António Gomes (Comunicação de Enquadramento)
José Jorge Letria
Ana Luísa Amaral
Anabela Mota Ribeiro (moderadora)

14h30 Palavras de Outrora, Agora
Ana Paula Guimarães (Comunicação de Enquadramento)
Manuela Júdice
Alice Vieira
Rui Lagartinho (moderador)

16h00 Palavras Trocadas
Sara Reis da Silva (Comunicação de Enquadramento)
Luísa Ducla Soares
Bernardo Carvalho
Ana Margarida Carvalho (moderadora)


Dia 16 de Dezembro, Terça-feira

09h00 Palavras Pintadas
João Paulo Cotrim (Comunicação de Enquadramento)
Vicente Ferrer
António Torrado
Luís Henriques
João Miguel Tavares (moderador)

11h00 Palavra de Bicho
Ana Margarida Ramos (Comunicação de Enquadramento)
Mesa Redonda: Maria Teresa Maia Gonzalez
Manuel António Pina
Álvaro Magalhães
Luísa Dacosta

12h30 Sessão de Encerramento
Eduardo Filipe – Relator
Rita Taborda Duarte - Comissária
Fundação Calouste Gulbenkian


Aproveitem!!!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A Princesa e a Ervilha

Vamos passar a ter um dia por semana dedicado à Literatura Tradicional, Portuguesa ou não. Hoje apresento-vos um conto de Hans Christian Andersen. Espero que gostem!


Era uma vez um príncipe que queria casar com uma princesa — mas tinha de ser uma princesa verdadeira. Por isso, foi viajar pelo mundo fora para encontrar uma, mas havia sempre qualquer coisa que não estava certa. Viu muitas princesas, mas nunca tinha a certeza de serem genuínas havia sempre qualquer coisa, isto ou aquilo, que não parecia estar como devia ser. Por fim, regressou a casa, muito abatido, porque queria uma princesa verdadeira.
Uma noite houve uma terrível tempestade; os trovões ribombavam, os raios rasgavam o céu e a chuva caía em torrentes — era apavorante. No meio disso tudo, alguém bateu à porta e o velho rei foi abrir.
Deparou com uma princesa. Mas, meu Deus!, o estado em que ela estava! A água escorria-lhe pelos cabelos e pela roupa e saía pelas biqueiras e pela parte de trás dos sapatos. No entanto, ela afirmou que era uma princesa de verdade.
— Bem, já vamos ver isso — pensou a velha rainha. Não disse uma palavra, mas foi ao quarto de hóspedes, desmanchou a cama toda e pôs uma pequena ervilha no colchão. Depois empilhou mais vinte colchões e vinte cobertores por cima. A princesa iria dormir nessa cama.
De manhã, perguntaram-lhe se tinha dormido bem.
— Oh, pessimamente! Não preguei olho toda a noite! Só Deus sabe o que havia na cama, mas senti uma coisa dura que me encheu de nódoas negras. Foi horrível.
Então ficaram com a certeza de terem encontrado uma princesa verdadeira, pois ela tinha sentido a ervilha através de vinte colchões e vinte cobertores. Só uma princesa verdadeira podia ser tão sensível.
Então o príncipe casou com ela; não precisava de procurar mais. A ervilha foi para o museu; podem ir lá vê-la, se é que ninguém a tirou.
Aqui têm uma bela história!


Conclusão Pessoal: um pormenor faz toda a diferença!

Homenagem a uma grande amiga

"O essencial é invisível para os olhos".

"Foi o tempo que perdeste com a tua rosa, que tornou a tua rosa tão importante".

Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry



O dia 5 de Dezembro foi um dia triste, mais triste foi o dia a seguir e os outros que se seguiram. É incrível como já lá vão três anos, já acabei a licenciatura, já estou no mestrado. Já trabalho, não como professora, mas na minha área. A nossa cidade mudou, está quase irreconhecível…, o tempo está mais frio e menos chuvoso, os Jogos Olímpicos foram na China, o Obama é Presidente, … enfim, tanta coisa que aconteceu!
Mas o dia 5 de Dezembro foi triste e talvez continue sendo triste por alguns anos… é mesmo assim… há dias tristes (dias fastos e nefastos, já disso os latinos tinham consciência).

Ainda revivo essa semana como se fosse um sonho, não consigo dizer exactamente o que aconteceu, já não estou certa do que senti, do que ouvi, do que presenciei. Não estou certa se tudo não foi mesmo um sonho e ainda estás aí, algures, esperando por mim, para irmos juntas para a escola.

Já recebi muitas notícias tristes, mas aquela acho que foi a mais triste, a mais difícil de acreditar e de compreender. Quando pensamos as coisas de uma maneira, quando vemos o mundo com óculos cor-de-rosa, com a certeza de que nós e os que nos rodeiam estão protegidos, é difícil aceitar injustiças e a “não-lógica” de Deus. E é difícil perdoar…

Foi no dia 6 de Dezembro que recebi a notícia. Sei que estava a almoçar, que não consegui comer mais nada, que fui para casa na companhia da M. e desatei a chorar quando ela me perguntou se estava bem. Sei que a C. me telefonou porque soubera da notícia e queria saber se estava bem. Sei que fui à nossa escola, não sei bem por quê, procurar alguém que me pudesse abraçar, alguém que compreendesse a minha dor. E encontrei! Nos dias, meses que se seguiram tentámos “remediar” as coisas, fazer justiça, mas já não havia nada a fazer. Apenas seguir com as nossas vidas…

Assim foi, me disseram, que algures no meio do deserto que é o nosso mundo, desapareceste tal qual o Principezinho. Ficamos sem saber ao certo o final da história, ficamos na dúvida. Mas há uma certeza que fica e que dói: já lá não está o Principezinho, nem tu estás entre nós. E penso que a Terra ficou mais pobre, sem Principezinho, que nos traz todo um simbolismo de pureza, de amizade, de verdade, de essência; e penso que a Terra ficou mais pobre, sem ti, minha amiga do coração, que nos trouxeste muitas vezes actos de beleza e de amizade, de verdade e de perdão, que não se encontram muito por aqui.
Contudo, não posso ser tão pessimista: acredito que semeaste boas sementes no coração de outras pessoas e que elas irão dar fruto a seu tempo.

Foste um autêntico Principezinho entre nós: teimosa, orgulhosa, determinada, crítica, forte apesar de frágil, …, mas sempre a pensar nas “flores” que deixaste sozinhas e que apenas têm três espinhos para se defenderem, mesmo quando esses mesmos espinhos já fizeram muitas feridas. Sempre a pensar em melhorar a situação do outro, a defender e a perdoar quem amas e não merece.

Sabes Ana, durante muito tempo ouvi os guizos nas estrelas, olhava para elas todas as noites e sorria, porque sabia que estavas bem, finalmente, tinhas que estar, não é? Precisava de acreditar que sim. E ao ver as estrelas, fui compreendo que não estavas totalmente ausente. A propósito do Principezinho, há uma frase que eu gosto muito: “Nem tudo acaba quando a vida terrena termina, em qualquer estrela do céu se pode ver a luz de uma alma que partiu”. Esta frase posso aplicá-la a ti, posso continuar a pensar que estás aí, algures, nesse Universo profundo e misterioso.
Sabes Ana, agora já não olho as estrelas todas as noites, mas penso em ti muitas vezes: penso no que poderias ter sido, nos tantos sonhos e projectos que poderias concretizar. Ainda me esqueço do que aconteceu e penso ver-te em alguém parecido contigo… depois lembro-me. Ainda vejo os teus problemas e dúvidas em outras pessoas e penso que tenho o dever de ajudar, que posso ajudar. E penso que até já ajudei alguém, por aquilo que me ensinaste, pelo menos deixei “marca”… Também vejo as tuas qualidades, pessoas que me surpreendem com os seus actos e palavras… e sorrio, porque ainda existem boas pessoas no mundo. Mas quantas mais poderias tu influenciar?


E também penso quantas pessoas tiveram a sorte de cruzar o seu caminho com o teu e tiveram oportunidade de ter uma grande amiga como tu. Apesar de já não estares aqui, sinto-me privilegiada… num postal de um dos meus aniversários, escreveste que tudo aquilo que tinhas escrito, tinha sido eu a ensinar-te, mas sinto que me ensinaste mais ainda. Ajudaste-me a crescer e a ver o mundo de outra maneira; ajudaste-me a crer nas pessoas, mesmo que por vezes me desiluda com elas; ajudaste-me a ver os que são diferentes de nós; ajudaste-me a sentir importante e a responsabilizar-me por cada palavra ou por cada acção.
Mas seguirei em frente, Ana, com coragem e determinação, com um sorriso no rosto. Sem culpas, sem remorsos, apenas com a consciência de que fiz o que estava ao meu alcance, que fiz o que as minhas capacidades limitadas de ver e mudar o mundo me consentiram. Sei que perdoaste todas aquelas coisas que fiz menos bem ou aquilo que deveria ter feito (hoje sei!) e não fiz… e sei, conscientemente, que sempre desejaste a minha felicidade.


Trabalharei para ser feliz e nunca te esquecerei!


Anita

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

AMIGOS

Um lindo poema de Vinicius de Moraes:


Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A Amizade é um sentimento mais nobre do que o Amor, eis que permite que o objecto dela se divida em outros afectos, enquanto o Amor tem intrínseco o ciúme, que não admite rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqyeceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto a minha vida depende das suas existências...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não lhes posso dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque elesfazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornam alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso, é que sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece, é, em síntese, dirigida ao meu bem-estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer.
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e , principalmente, os que só descofiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os!!!


*Dedico este poema a todas as pessoas, a quem eu chamo AMIGO.

Bjinhos e uma boa semana,

Anita.

PARABÉNS

Fiz anos dia 28 de Novembro!
Escrevo-o porque acho que vale sempre a pena recordar e marcar os momentos importantes da nossa existência.
Foi um dia bonito, assim como o seguinte.
As melhores prendas que recebi foram a companhia dos meus pais, do meu tio, dos meus padrinhos e dos meus grandes amigos. Foi graças a todos eles que passei, mesmo cansada, dois dias maravilhosos que quero recordar.

*PARABÉNS* Anita.

Que faças muitos e muitos anos, com saúde e alegria.
Que continues a sorrir e a acreditar nas "coisas impossíveis".
Que tenhas força, coragem e determinação e nunca desesperes ao mais leve sinal de contradição.
Que nunca desanimes nem percas o entusiasmo - ("O sucesso é ir de fracasso em fracasso, sem perder entusiasmo" Winston Churchill).
Que mantenhas a cabeça erguida quando tens razão e a vergues quando não a tens.
Que conserves os amigos, com pensamentos, palavras e atitudes.
Que semeies boas sementes, com muito amor e tires com cuidado as ervas daninhas que já não te servem.
Que te respeites sempre e que respeites os outros.
Que te ames e que te perdoes, fazendo cada dia melhor.
CARPE DIEM - vive o dia de hoje!
SÊ FELIZ!!! =)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Os autocarros não esperam por nós

De facto, é um grande problema que afecta a maior parte de nós. Quantas vezes não vimos já uma pessoa a correr para ir apanhar o autocarro… o autocarro que a levará a horas ao emprego; o autocarro que vai fazer com que não chegue tão atrasada à escola; o autocarro que permite chegar 30 minutos mais cedo a casa (porque o que vem a seguir apanha trânsito!) e estar mais tempo com a família; o autocarro derradeiro, o último dessa noite, desse dia cansativo.
Quantas vezes não o vemos sair, quantas vezes batemos com a cara na porta, quantas vezes o perdemos por um minuto apenas, um segundo… um segundo é muito importante nesta questão dos autocarros! Quem ainda não pediu, diante da porta fechada, permissão para entrar, “por favor!”, “desculpe!”, “abra lá!”… mas a porta fechada não abre… e não temos outro remédio senão esperar por outro ou decidir por outra alternativa.
Nesta coisa dos autocarros só quem não passa por elas, neste caso por eles, é que não compreende. É como aquele poema do Álvaro de Campos: “Mas, afinal, / Só as criaturas que nunca escreveram / Cartas de amor / É que são / Ridículas”. Não é que eu compare as cartas de amor (ou as ditas criaturas) com os autocarros, longe disso. Apenas quero fazer compreender ao meu leitor que só quem vive a situação é que a compreende. Oh, meus queridos leitores! Quem nunca perdeu autocarros?
E o transtorno que isso faz na vida da pessoa!? Não queiram saber… mesmo que esteja um dia com um sol radioso, torna-se péssimo se perdemos o autocarro logo pela manhã. Ficamos transtornados, suados, nervosos, impacientes… já sabemos que o dia vai correr mal… que não devíamos ter saído de casa… que afinal o signo daquele dia estava certo… enfim, o dia fica perdido… O trabalho não fica bem feito, não há concentração no estudo, não se ouve as pessoas, comemos mal (“estou atrasada!”), não vemos a casca da banana e tropeçamos… enfim, tudo pode acontecer se … perdermos o autocarro.

Há uma frase que eu gosto muito, já a disse esta semana a alguém: “Mais vale eu estar preparada e não surgirem oportunidades, do que surgirem oportunidades e eu não estar preparada”. Gosto de pensar assim, que tudo acontece para me preparar para algo que vem depois, bom ou mau. Que aprendo todos os dias, comigo e com os que me rodeiam, sejam mais velhos ou mais novos do que eu. Nesta viagem da vida, em que tropeço constantemente por falta de atenção e talvez por outras coisas que desconheço, preciso de ir apreciando a paisagem, sem pressas de chegar ao meu destino. Ando a correr, quero fazer tudo ao mesmo tempo, mas a flor não cresce num dia.
Isto leva-me a pensar que não vejo todas as oportunidades que se me abrem todos os dias, as janelas e as portas que me levarão para onde possa realizar todas as minhas qualidades e ser feliz, como se tivesse semeado um fruto. Às vezes é um problema de não as querer ver, inclusivamente de fechá-las, porque há coisas mais urgentes no momento… e urgentes não significa essenciais =).
Se houve coisa que aprendi foi a importância de dizer uma palavra, pois posso nunca mais ter a oportunidade de a dizer. Se houve coisa que aprendi foi a importância do abraço e do elogio, pois posso nunca mais ter a oportunidade de abraçar e/ou de elogiar. Se houve coisa que aprendi foi a importância do ser amigo, pois posso nunca mais ter a oportunidade de o demonstrar.
Porque os autocarros, meus queridos leitores, não esperam por nós!!!

Uma boa semana para todos vós.
Bjinhos,

Anita.


P.S.: Este tema foi-me dado numa aula da ginástica… imaginem! De facto é um bom tema e já à umas semanas que me andava a martelar na cabeça. Aqui vos deixo estas linhas na esperança de vos ser útil.

domingo, 9 de novembro de 2008

OBRIGADA

Gostaria de agradecer à primeira pessoa que votou e também ao número considerável de visitantes.
Prometo que vou voltar a postar em breve com interessantes reflexões à volta da Vida, da Literatura e da Educação. [Embora o trabalho seja muito...]
Por favor não se acanhem, partilhem as vossas impressões, reflexões, críticas e sugestões. Serão sempre bem-vindos os vossos comentários, pois permitir-me-ão melhorar o blog e ir também ao encontro das vossas expectativas e interesses.
Vamos fazer esta floresta encantada crescer e dar bons frutos!

Boa semana para todos vós,

Anita.

sábado, 18 de outubro de 2008

O valor de educar

Nas minhas aulas do mestrado de ensino, uma das professoras deu-nos este texto para trabalharmos. Achei-o tão lindo e tão rico que quero partilhá-lo convosco. Espero que gostem e que dê para reflectir um pouco sobre esta coisa engraçada, difícil e problemática chamada educação.


«Pode aprender-se muito sobre o que nos rodeia sem que ninguém no-lo ensine nem directa nem indirectamente (adquirimos desta maneira grande parte dos nossos conhecimentos mais funcionais), mas a contrapartida a chave para entrar no jardim simbólico dos significados temos de a pedir sempre aos nossos semelhantes. Daí o profundo erro actual de homologar a dialéctica educativa com o sistema com que se programa a informação dos computadores. Processar informação não é o mesmo que compreender significados.Nem muito menos é o mesmo que participar na transformação dos significados ou na criação de outros novos. Inclusive para processar informação humanamente útil faz falta ter recebido, prévia e basicamente, treino na compreensão de significados. O significado é aquilo que eu não posso inventar, adquirir ou sustentar isoladamente porque depende da mente dos outros. A verdadeira educação não só consiste em ensinar a pensar mas também em aprender a pensar sobre o que se pensa e este momento reflexivo - aquele que com maior nitidez assinala o nosso salto evolutivo em relação a outras espécies - exige constatar a nossa pertença a uma comunidade de criaturas pensantes. Tudo pode ser privado e inefável - sensações, pulsões, desejos... - excepto aquilo que nos torna participantes de um universo simbólico a que chamamos «humanidade».

(...) Assim, o primeiro objectivo da educação consiste em tomarmos consciência da realidade dos nossos semelhantes. Isto é: temos de aprender a ler as suas mentes, o que não equivale simplesmente à destreza estratégica de prever as suas reacções e adiantarmo-nos a elas para condicioná-las a nosso favor, mas antes implica atribuir-lhes estados mentais iguais aos nossos e inclusivamente deles dependendo a própria qualidade dos nossos. O que implica considerá-los sujeitos e não meros objectos; protagonistas da sua vida e não meros comparsas ocos da nossa.

(...) A realidade dos nossos semelhantes implica que todos somos protagonistas do mesmo conto: eles contam para nós, contam-nos coisas e ao ouvi-los ganha sentido o conto que nós próprios também vamos contando... Ninguém é pessoa solitária e isoladamente; é-se sempre pessoa entre pessoas: o sentido da vida humana não é um monólogo mas antes provém do intercâmbio de sentidos, da polifonia coral. Em primeiro lugar, a educação é a revelação dos outros, da condição humana como um concerto de cumplicidades inevitáveis.»

Fernando Savater, El Valor de Educar

domingo, 12 de outubro de 2008

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Faça uma lista de grandes amigos

Recebi este poema num e-mail. Simplesmente ADOREI.
Queria partilhar convosco.
Fico à espera de comentários.




As pessoas entram e saem ao longo do caminho da nossa vida. Os amigos deviam ficar para sempre, não apenas no nosso coração ou na nossa memória, mas sempre junto de nós, partilhando os bons e maus momentos. Quantos amigos que tinhamos, e agora onde estão? Que terão feito das suas vidas? Que caminhos terão escolhido? Serão felizes? Lembrar-se-ão de nós?

Os sonhos... tantos sonhos que sonhamos quando somos crianças: fazemos castelos na areia, acreditamos que nada é impossível, temos fé nas coisas mais incríveis... e depois? desistimos? alcançámos? ainda esperamos algum dia alcançar? Ou será que nos esquecemos dos nossos sonhos?

Quando dizemos "até sempre" ou "para sempre", cumpriremos nós as nossas promessas?

Como nos vemos ao espelho? Como somos? Como fomos? Como seremos?
Será que nos aceitamos aqui e agora e assim como somos? Com os nossos defeitos e virtudes, com os nossos fracassos e as nossas vitórias, com os nossos sonhos e com a nossa realidade? Ou será que ainda vemos a foto passada e esquecemos de acrescentar outra ao álbum?
E mais... Somos aquilo que pensámos ser? Realizámos já tudo em nós? Todo o nosso potencial, o que podemos ser ou o que poderíamos ter sido? Sentimo-nos bem assim, na imagem reflectida no espelho ou há algo que temos que mudar e voltar ao nossos sonhos do "eu queria ser..." e tentar mais uma vez?

Quantos mistérios nos faziam sonhar? procurar? descobrir? indagar? Temos algumas respostas? Essas respostas ainda nos satisfazem? Hoje ainda fazemos perguntas? (Quando alcançares um sonho, sonha outro! / Quando tiveres uma resposta, pensa noutra pergunta!)

Quantos segredos guardámos? Que prometemos nada dizer?

O que condenávamos há uns anos? Será que hoje, por um motivo ou outro, não temos opção?

Os nossos defeitos... as nossas virtudes... A vida é um caminho onde aprendemos com os erros. O que já aprendemos nós?

Olha à tua volta... há pessoas que te amam. Será que reparamos?

Faz uma lista de grandes amigos,
Quem mais vias há dez anos atrás,
Quantos ainda vês todo o dia,
Quantos não encontras mais.



*Para reflectir*

Bjinhos,

Anita

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Escrever

Em primeiro lugar tenho que vos pedir desculpa, caro Leitor e cara Leitora. Estava cansada, precisava de férias e a preguiça para escrever era mais que muita. Desculpa se me descuidei de ti, tu leitor, tu leitora, que vives de textos, de frases, de palavras… Desculpa se me esqueci de ti durante estes dois meses. Perdoas-me? … Espero que sim.

Sabes, nem sempre é fácil escrever… precisamos de um tema, de imaginação, de disposição… enfim… um pouco de tudo e um pouco de nada. Diante desta página em branco (ou em rosa!) as palavras fluem, insistem em sair destas mãos e carregar no teclado. Insistem em sair de mim e ser autónomas. Insisto em escrever mesmo que não tenha nada para dizer, mesmo que o pensamento pare e eu não consiga pensar em nada, mesmo que a preguiça me diga que são horas de dormir, mesmo que a vontade seja ir para o sofá e ver televisão.
Mas afinal por que escrevemos? Já pensaste nisso, Leitor? Leitora? Escrevemos porque não conseguimos suportar o peso das palavras e nos queremos ver livre delas? Será que nos sentimos presos e escrever é uma forma de liberdade? Será a liberdade sinónimo de eternidade? Serei eterna se for livre, se me despegar das palavras e as puser no papel? Conhecemos muitos escritores graças às suas obras, um pouco deles ainda perdura na memória dos homens porque perdura nas páginas de um livro. A marca que pomos no papel, na folha em branco, no ecrã rosa poderá ela ficar para sempre? Talvez não, mas creio que marca sempre quem lê.
E afinal como escrever se não nos ocorre nada? A angústia de muitos escritores perante a primeira folha, como começar? É o incipt, o princípio, o passar da fronteira, que muito angustia quem escreve. Tantas são as formas de passar para o lado de lá, mas nunca sabemos ao certo qual a porta que utilizamos. É como uma porta mágica, que aparece e desaparece, para aparecer noutro lugar, igual ou diferente, ou não aparecer jamais… é uma oportunidade única, um único momento. E só temos uma possibilidade de embarcar nessa viagem que nos leva a Fantasia… a terras longínquas que não se conhecem, à terra sem fronteiras… porque a imaginação não tem fronteiras...

terça-feira, 15 de julho de 2008

Há dias de poesia...

Talvez já seja poesia a mais e trabalho a menos mas há dias assim, em que os poemas vem e vão, em que nos fazem pensar e nos fazem sorrir... é como quando não nos sai uma música da cabeça, uma ideia que temos de verificar, um poema que não aconteceu ou que ficou perdido no caminho... há dias de poesia...


Às vezes tenho ideias, felizes,
Ideias subitamente felizes, em ideias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...

Depois de escrever, leio...
Porque escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
C
om que alguém escreve a valer o que nós aqui
traçamos?...



18/12/1934 (Álvaro de Campos)



Dá que pensar...



Aconteceu-me um poema!
Nasceu assim, devagarinho,
Inesperadamente
Nasceu em mim.
Sem estar à espera, em tom de surpresa…
Como a brisa suave do vento num dia de calor
Como oásis num deserto
Suave e terno, cresceu e morreu
Como uma onda no mar.
Navio afundado, para sempre guardado
No coração do oceano.





terça-feira, 8 de julho de 2008

Apresento-vos... um conto

As duas bonecas

Conto de António Sérgio

Lá longe, na Índia, havia um rei que tinha uma filha. Ora, queria o rei que a sua filha casasse com um homem de muito juízo. "O noiva da minha filha" (dizia ela) "pode ser fidalgo, valente, bonito e rico -tudo isso será bom; mas mais que tudo, antes e acima de tudo, eu quero que o noivo da minha filha seja um homem de muito juízo, uma pessoa discreta e de muito bom senso."
Um dia, o rei mandou fazer duas bonecas muito bem feitas, do tamanho de pessoas crescidas. Era olhar para elas, e vê-las iguais -mesmo iguaizinhas. As caras das duas eram iguais; os corpos, iguais; os tamanhos, iguais; os vestidos, iguais; - tudo igual. Não se via diferença: mesmo iguaizinhas.
O rei, depois, mandou pôr as duas bonecas à porta do seu palácio. Um arauto avançou por ordem dele, e gritou assim, para que todos ouvissem:
- Olá! Oiçam todos o que eu vou dizer! Oiçam todos, e passem palavra do que vão ouvir! À porta do palácio estão duas bonecas. O homem (quem quer que ele seja) que for capaz de dizer certinho em que é que as bonecas não são iguais – esse casará com a nossa princesa, e virá um dia a ser rei!
A notícia correu de terra em terra, e por toda a parte se dizia o mesmo, – por todas as cidades, por todas as aldeias, por todos os campos. "Casará com a princesa, virá a ser rei, quem for capaz de descobrir em que é que as bonecas não são iguais."
E desde então, de dia e de noite, passava gente de todas as partes – pelas estradas, pelas veredas, pelos caminhos, uns nos seus carros, outros montados, muitos a pé, – para verem na porta as bonecas do rei. Eram monarcas, eram fidalgos, eram pastores, que todos se punham a ver e mirar. Viam em cima, viam em baixo, viam à frente, viam aos lados, viam atrás. Olhavam, fitavam, espreitavam, contemplavam, inspeccionavam, examinavam – e nada, nada, nada! Ninguém via diferença alguma. Eram iguais!
- Não sei. Não vejo diferença – diziam todos – parecem-me iguais.
E os cozinheiros, portanto, não tiveram de cozinhar o banquete para o dia do casamento da princesa. Por fim, apareceu uma manhã um homem alegre e muito novo – um jovem – de olhos brilhante e de gesto calmo, que parecia pensar as coisas bem pensadas, até adivinha, bem adivinhadas, as adivinhas que lhe propusessem. Ouvira falar do aviso do rei, e queria ver, também ele, as duas bonecas! Colocou-se pois adiante das duas, e esteve muito tempo a examiná-las. Não via, também, nenhuma diferença. Os olhos de uma eram iguais aos da outra; iguais as mãos, os braços, os pés, os vestidos. Tudo igual! Saiu o jovem de ao pé das bonecas. Passeou, pensando, de um lado para o outro. Franziu os sobrolhos. Cruzou as mãos por trás das costas. Fechou os olhos. Inclinou a cabeça ...
De repente, lembrou-lhe uma coisa. Foi ver as orelhas das duas bonecas. Viu também as suas bocas. Procurou depois qualquer coisa pelo chão, até que encontrou uma palhinha. Pegou na palhinha, e voltou para as bonecas. Então, meteu a palhinha por dentro do ouvido de uma delas. Foi empurrando, empurrando, empurrando, até que viu sair a outra ponta pela boca da boneca, ao meio dos lábios. Puxou então por essa ponta, e assim tirou a palhinha cá para fora. Foi depois à outra boneca - a da esquerda -, e meteu-lhe a palha para dentro do ouvido. Empurrou a palha, empurrou, olhando para os lábios dessa mesma boneca. Empurrou mais. Não saía. Empurrou tudo, até ao fim. A palha desapareceu. Tinha caído, certamente, para dentro do corpo. Não havia passagem do ouvido para a boca.
Então, chamou um criado, e disse-lhe assim:
- Faça favor de dizer a el-rei que lhe peço para lhe falar sobre as bonecas. Já dei com o segredo.
O rei mandou-o entrar. O jovem inclinou-se, cruzou as mãos sobre o peito.
- Pode falar - disse-lhe o rei.
- Meu senhor - começou o jovem - uma das bonecas é melhor que a outra, porque não atira pela boca fora tudo o que lhe entra pelos ouvidos; ao passo que a outra deixa sair pela boca, tudo que pelos ouvidos se lhe meter. Uma não repete, pois, tudo aquilo quanto ouve dizer; a outra é linguareira e indiscreta.
- Ora até que enfim! - declarou o rei - Trataremos de preparar a festa de noivado. Este jovem tem juízo, e há-de casar com minha filha!
E então é que foi trabalho, meus amigos, para os cozinheiros, os alfaiates, os criados, os mordomos, os oficiais, e toda a demais gente do real palácio!
E isso é que foi uma festa, a do casamento da filha do rei!



Os contos não são só para crianças... todos nós podemos aprender muito com eles. Li este conto num manual de Português do Ensino Básico e na altura gostei muito dele. Depois esqueci-o como se esquecem muitas das coisas importantes da nossa infância... Há pouco tempo fui ver se o descobria na net para partilhar convosco. Espero que tenham gostado!

sábado, 28 de junho de 2008

Aguarela_Toquinho



A vida é uma aguarela de cores. E cada um de nós é o seu pintor...

Para reflectir...

terça-feira, 24 de junho de 2008

O dom da palavra_continuação

Como sabemos, é próprio do ser humano ouvir e contar histórias… não só porque há uma necessidade de comunicar mas também porque essas histórias trazem consigo um universo mágico e maravilhoso. Todas as culturas têm lendas que explicam a sua origem, que dão um carácter mais misterioso à fundação de uma cidade ou de um povo. Há quem diga que Ulisses terá fundado Lisboa quando aqui aportou… e esse mito, “o nada que é tudo” como sintetiza Fernando Pessoa, dá-nos um orgulho nacional, uma união enquanto povo.

De facto desde os tempos primórdios que a palavra se impôs ao Homem como algo mágico, como um poder misterioso, que tanto poderia proteger, como ameaçar, construir ou destruir.
E é a esta oralidade, a esta tradição que o Romantismo regressou: pela Europa, Walter Scott, Shakespeare, os irmãos Grimm, M. Stael, Lamartine; em Portugal, Almeida Garrett e Alexandre Herculano. Como diz Garrett: “O tom e o espírito verdadeiro português esse é forçoso estudá-lo no grande livro nacional, que é o povo e as suas tradições e as suas virtudes e os seus vícios, e as suas crenças e os seus erros. E por tudo isso é que a poesia nacional há-de ressuscitar verdadeira e legítima” (Romanceiro).

E muitas dessas histórias, dessas lendas, devido às suas características mágicas e fantásticas foram a pouco e pouco sendo relegadas para um universo infantil. Não estou de modo nenhum a reduzir a Literatura Tradicional para os contos, pois há um universo imenso de provérbios, adágios, cantigas, rezas, lendas, fábulas, etc., etc.. Mas agora quero apenas falar dos contos… contos que talvez tenhamos ouvido na nossa infância, contos que ainda hoje talvez alguns de nós ainda mantêm vivos (contando)…

Pensamos muitas vezes que os contos apenas servem as crianças ou talvez também os jovens mas acho que é e será sempre bom voltarmos àquelas histórias cheias de cor e sentido, que nos mostram valores humanos, que nos fazem sonhar um mundo melhor e que nos mostram a magia das palavras… Podemos encontrar nesses contos questões do dia-a-dia de todos nós, temas que dizem respeito a toda a gente, inclusive naquelas que ao princípio nos parecem que não têm nada a dizer, são histórias da carochinha, pensamos com certa ironia, mas afinal podemos encontrar na própria história da Carochinha problemas ecológicos e o chamado efeito da borboleta (cf. Falas da Terra, Ana Paula Guimarães).
Como li há pouco tempo num livro: “Um livro para crianças que é também para adultos. / Um livro para adultos que é também para crianças.”

Este assunto, bem sei, dá pano para mangas, e o post já vai bastante longo. Contudo, não quero deixar de realçar que apesar de nos encontrarmos numa sociedade que caminha a um ritmo alucinante e dá muito valor à imagem, a PALAVRA e o seu dom de “delectare” (deleitar), “docere” (ensinar) e de “mouere” (mover (algo em nós) / fazer agir) continua presente. Há filmes (e séries de ficção científica) que voltam aos grandes mistérios da Antiguidade onde há códigos secretos, livros perdidos, palavras no vento… e há livros (O Senhor dos Anéis, Narnia, Os Reinos do Norte, Eragon e Eldest, Harry Potter, História Interminável, … ) que voltam a esse mundo maravilhoso, onde a PALAVRA ainda é algo mágico, ainda têm o poder misterioso de criar / construir, de proteger, mas também de ameaçar e destruir. É uma espada de dois gumes.
E esses livros (e filmes) se conquistam crianças e jovens em todo o mundo, também não deixam de encantar os mais adultos.



Nestes últimos textos misturam-se várias coisas como hão-de ter notado, começámos a falar na Odisseia e acabámos no Harry Potter… no meio deles ficou a tradição e a modernidade, a oralidade e a escrita e a imagem… Há de facto um fio condutor no meio deste texto que mais parece um labirinto… mas longe de mim querer que se percam… o fio condutor é precisamente o dom da palavra.


Também não quero deixar de pedir desculpa aos visitantes habituais deste blog pela falta de novidades durante algum tempo. Espero que estes posts compensem a vossa vinda aqui e espero também continuar a escrever nele regularmente. Obrigada pela vossa visita e leitura.


E como quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto, quero acabar estes dois posts com um apelo: “Conta-me uma história…”

O dom da palavra

Antes da escrita ter sido inventada, pelo menos da maneira que conhecemos, a oralidade tinha um papel preponderante. Toda a educação do novo indivíduo, toda a herança cultural e histórica de uma comunidade era feita através da oralidade. E a palavra tinha um dom, uma magia, quase inexplicável, quase misteriosa.
Sabemos que os diversos episódios da Íliada e da Odisseia terão sido cantados pelos aedos, acompanhados de música, enquanto se serviam os banquetes. A palavra cantada/recitada penetrava mais fundo no coração de quem a escutava: Ulisses chora ao ouvir cantar os acontecimentos de Tróia na ilha dos Feaces.
Da Europa do Norte também ouvimos histórias maravilhosas e fantásticas sobre druidas, fadas e elfos, etc. Os bardos imortalizavam as tradições e a cultura através de versos cantados.
Na nossa Hispânia também os trovadores e jograis cantavam na Idade Média as cantigas galego-portuguesas nas cortes (cantigas de amigo, de amor, de escárnio e de maldizer), enquanto o povo fazia os seus próprios cantares, o seu folclore.
Hoje um e-mail pode dar a volta ao mundo em pouco tempo. Antigamente, os cantos, as músicas, as histórias caminhavam pelos homens lentamente, mas não deixava de haver intercâmbio: os valores do passado, as lendas das origens e do princípio do universo, as lendas dos grandes heróis, os mitos dos deuses e semi-deuses, as histórias de amores impossíveis, …, eram transmitidos assim, oralmente. Tal e qual como a canção:

Cantiga da rua,
Das outras diferente
Nem minha nem tua
É de toda a
gente
Cantiga da rua
que sobe e flutua
mas não se detém,
inscontante
e louca
vai de boca em boca
não é de ninguém.

Cantiga da
rua
Veloz Andorinha
Não pode ser tua
E não será minha…
Cantiga da
rua
Jamais se habitua
Aos lábios de alguém
Vive independente
É de
toda a gente
Não é de ninguém!

E assim, de boca em boca, também podia correr mundo...

Um pouco de poesia

“As Palavras Interditas”, Eugénio de Andrade (1951)

Os navios existem e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas minhas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O peixinho

«Por favor, por favor!»
disse um peixe do mar a outro peixe:
«Tu que deves ter mais experiência,
talvez possas ajudar-me...:
Onde posso encontrar a imensidão
a que chamam Oceano? Eu procuro
em toda a parte e não encontro».

«Mas é precisamente no Oceano
que tu estás», disse o outro.

«Oh...isto? Mas eu só vejo água!»,
disse o peixe mais jovem; «eu procuro
é o grande Oceano!».
E lá foi nadando,
muito desapontado, à busca de informações
noutro lugar.

Fonte: O canto do pássaro, Anthony de Mello

O que queremos ver, ter ou sentir às vezes está diante de nós e mesmo assim não vemos. Às vezes está de outra forma ou traz algo que não esperavamos, mas na sua essência é a mesma coisa.
É como a felicidade, procuramos, procuramos, procuramos e não achamos em nada e, se (pensamos que) finalmente a encontrámos, logo ela se esvai como areia entre os dedos.

Não estaremos nós muitas vezes a tentar abrir uma porta para fora quando ela se abre para dentro!?

P.S.: Este post (ou postagem) parece que não tem nada a ver com literatura... mas tem tudo a ver...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Comentário

Este comentário à Ode Marítima de Álvaro de Campos foi escrito já há algum tempo e decidi pô-lo também aqui. Não que eu seja grande apreciadora dos poemas de Álvaro de Campos, porque nem sou, prefiro o mestre Caeiro; mas este poema é de facto um daqueles que caracteriza este heterónimo. Se ainda não leram, façam o favor, eu espero...
O comentário não é de todo exaustivo nem era esse o objectivo; mais do que um comentário é uma leitura do poema. Se frustrar as vossas expectativas, peço desde já as minhas sinceras desculpas. Continuem a ler e a visitar este blog porque algum dia até pode sair qualquer coisa de jeito.

“Sozinho, no cais deserto”, o sujeito poético viaja no tempo e no espaço. O Mar chama-o (e quem consegue resistir-lhe?) e leva-o para Longe, para o Indefinido, para aquilo que não está lá mas que ele vê através da Imaginação, perdendo-se no novelo de lã do seu passado, envolvido no “sonho das águas”.
Aos poucos o sujeito poético vai deixando o cais, “o volante começa a girar, lentamente” e a viagem começa. Deixa o mundo real, o que está perto.
A antítese entre o longe/perto e o passado/presente marca todo o poema. O conflito interior simboliza o paradoxo de amar a “civilização moderna”, de beijar “com a alma as máquinas”, de ser “o engenheiro”, “o civilizado”, “o educado no estrangeiro”, mas querer fugir de tudo isso, deixar aquele cais e partir para longe, num mar longínquo que não se conhece, “da época lenta e veleira das navegações perigosas, / da época de madeira e lona das viagens que duravam meses.” Por um lado “o medo ancestral de se afastar e partir” (as âncoras do passado), por outro “o misterioso receio ancestral à Chegada e ao Novo” (o presente).
Envolvido no “sonho das águas” quer voltar ao tempo dos piratas, dos saques, das mortes, das aventuras marítimas: “Quero ir convosco (…) / ao mesmo tempo com vós todos / para toda a parte pra onde fostes (…) Fugir convosco à civilização! Perder convosco a noção da moral! (…) Ir convosco, despir em mim (…) o meu traje de civilizado.” Como na Ode Triunfal, temos outra vez o sensacionismo, a fragmentação do “eu”, querer sentir “todas estas coisas duma só vez pela espinha”.
Depois do êxtase, encontramos um Álvaro de Campos cansado e angustiado que sabe que “não pode agir de acordo com o seu delírio” e volta à infância. “Infância feliz (…) que nunca mais tornei a ter (…) boneco que me partiram.” A saudade de um tempo em que foi, ou pensou que foi, feliz.
Já quase no fim do poema, o sujeito poético volta ao presente, ao mundo real, àquilo que está perto – “só o que está perto agora me lava a alma” – o volante abranda. A viagem a tempos passados está a chegar ao fim. Deparamos com um Álvaro de Campos moderno, actual, que diz que as máquinas também têm poesia, que diz que tem “o orgulho moderno de viver numa época onde é tão fácil / misturarem-se as raças, transporem-se os espaços”.
O volante pára, o navio perde-se no horizonte, e depois? Nada, “só eu e a minha tristeza / E a grande cidade agora cheia de sol / E a hora real e nua como um cais já sem navios.”



Podem comentar, criticar, sugerir... as vossas palavras serão sempre bem-vindas!!! Assim como a vossa visita, muito obrigada!!!

domingo, 18 de maio de 2008

"Artes Irmãs"

Quando lemos a descrição do escudo de Aquiles na Ilíada de Homero ficamos maravilhados pela plasticidade da linguagem que nos faz visualizar todas aquelas imagens como se tivessemos herdado aquele escudo e o tivessemos mesmo em frente aos nossos olhos. Sugere-nos até o movimento, o desenrolar de uma acção própria; sugere-nos até a metamorfose das letras em tintas. Este é o primeiro exemplo de ekphrasis que conhecemos.
Seguindo Homero, Virgílio e Ovídio, como pintores que pintam a sua tela, fazem com as suas palavras verdadeiros quadros: descrições de uma visualidade incrível, que se pintam aos olhos do leitor à medida que vai lendo as páginas da Ilíada, da Eneida ou das Metamorfoses.
Assim como os textos dialogam entre si, nas diferentes artes também podemos estabelecer relações: a Literatura e a Pintura são as "Artes Irmãs" de que falam os Estudos Comparativistas.
Esta quase transformação das palavras em tintas, do papel em tela, é sugerida pelo recurso à ekphrasis, que pode ser definida à partida como uma descrição poética de um objecto. Fernando Martinho diz que o sentido primitivo dado à ekphrasis "não se restringia à descrição de uma obra de arte, englobando antes a «descrição global de uma coisa, quase tudo, na vida e na arte»". Ekphrasis seria então na Antiguidade uma descrição poética (e por isso verbal) que remetia para algo que estava fora do texto, para além dele, "no sentido em que visa exprimir verbalmente algo que não é composto por palavras", neste caso algo de visual.
O Leitor ganha extrema importância neste contexto, pois as palavras escritas pelo poeta devem ter o poder de criar no receptor uma imagem mental, mesmo que este nunca tenha visto o objecto em causa, até porque muitos desses objectos fariam parte da ficção. Esclarece Mª Fernanda Conrado que "a essa capacidade de sugestão imagética, de criar uma imagem vívida na mente do leitor chamavam os gregos enargeia, e é um requisito particular da ekphrasis tradicional".
Não resisto a fazer aqui uma pequena citação do Livro I das Metamorfoses, cuja sensibilidade, lirismo e platicidade saltam á vista:

"A própria terra, isenta de deveres, intocada pela enxada,

Ferida por nenhum arado, tudo dava espontaneamente. (...)

E o campo sem lavra empalidecia de carregadas espigas.

E então, corriam rios de leite, então, rios de néctar,

E loiro mel pingava do cimo da verdejante azinheira".

Afinal... vale a pena ler os clássicos!!!

Fios que se continuam a entrelaçar

Em Literatura Comparada são fundamentais as questões das fontes e das influências. Desde sempre que os autores, ou os artistas, se "olham", se "tocam" e muitas vezes se "pintam", com maior realismo ou maior subjectividade. Como já vimos o texto, como a vida humana, é constituído por uma teia de complexidades, que vai rementendo para outros textos, para outros autores. Há uma metamorfose dos temas consoante o contexto presente e a persona que os re-cria. Como os mitos que nos acompanham desde a Antiguidade e que continuam vivos, porque adaptáveis ao presente. Em Metamorfoses, Ovídio diz que "a maior parte deles [dos mitos] vive connosco".
Esta teia de relações ininterrupta, lembra o próprio mito de Aracne, bela donzela da Lídia cuja arte de tecer tinha uma fama tão grande que até as ninfas vinham vê-la. Mas Aracne, orgulhosa, julgou-se maior que Minerva (corresponde a Atena, deusa ligada à guerra, à oliveira e também à tecelagem). Típico das relações entre deuses e mortais que se julgam maiores que eles, Minerva põe Aracne à prova e no fim castiga-a: metamorfoseada em aranha, Aracne é condenada a tecer a sua teia eternamente.
Teia que podemos relacionar mais uma vez com a tradição literária, pois é próprio do Homem ouvir e contar histórias, acrescentando cada um, à sua maneira, mais um ponto dessa tão grande manta de retalhos. Teia que relacionamos também com o sentido etimológico de texto, tecido.

Nas Metamorfoses, Ovídio utiliza um termo no prólogo "deducite" que vem do verbo deducere (conduzir). O tradutor, Paulo Farmhouse Alberto esclarece-nos:

"No termo, somam-se duas metáforas. Por um lado, o verbo remetia para o campo semântico da tecelagem e tinha o sentido de "fiar a lã"; a construção literária era, assim, um processo de puxar de uma massa de lã um fio, retorcendo-o, trabalhando-o com os dedos, por forma a transformá-la nos mais belos tecidos. Por outro lado, também poderia subentender-se nele uma imagem naútica: é o termo usado para fazer descer para a água o barco posto a seco, para dar início à navegação, ou seja, para iniciar a narração do poema, qual viagem sobre o mar".

domingo, 11 de maio de 2008

Revisitações _ parte 3

Ao fim de dois dias de verdadeiras “aulas” de reflexão sobre «como ser um bom professor de português?» ou «o que é uma boa aula de português?», senti-me tentada a escrever. Como se dizia existe sempre esta recursividade: ler, escrever, ler, escrever, …. Com grandes especialistas da língua e do seu ensino cada vez estou mais convencida da magia que é “dar” literatura, não no sentido de me “despachar” dos conteúdos ou das obras mas de os transmitir, de levar outros ao conhecimento e à interpretação, de levar à reflexão e ao espírito crítico e à “indisciplina” de que falava o professor Gustavo Rubim. Porque é preciso trabalhar com os textos, é preciso ver que eles são abertos e a nossa leitura não pode ser disciplinada para um único sentido do texto. Que o seu sentido nem está lá (como as bolachas dentro de uma caixa, metáfora da professora Silvina Lopes referida pela professora M.ª Graciete Silva) mas que se vai construindo pela leitura. O nosso cuidado com a língua, enquanto professores e/ou mediadores da leitura tem ir para além da palavra escrita, deixar o linear e ir ao alegórico. Não podemos é deixar-nos levar para os dois limites, “no meio é que está a virtude” como dizia Horácio.
Ao fim de dois dias de verdadeiras “aulas” de reflexão e partilha de saberes, conclui que aquilo que verdadeiramente quero é ensinar o português, a literatura portuguesa. E que as dificuldades do caminho para consegui-lo e para possivelmente continuar a ser professora não me devem impedir de ver a riqueza da minha língua materna, de sentir a magia da literatura portuguesa, de admirar a intraduzibilidade de um poema, de ter nas minhas mãos o poder de transmitir não só conhecimento mas sentimento.
Os especialistas da língua e da sua didáctica e os “oficiais do mesmo ofício” (como falava a professora Graciete) mostraram-me que é preciso manter acesa essa chama, essa vontade de levar a cabo uma tarefa complicada que é ser-se professor. E um dia, quando as dificuldades forem muitas, voltar atrás, revisitar de novo estas revisitações.

Revisitações _ parte 2

Falou-se de tudo um pouco: a importância da leitura (nomeadamente o projecto “Plano Nacional de Leitura: Ler e Escrever mais e melhor”) e como lemos e compreendemos os textos (investigação exploratória); a questão do cânone literário e da importância que pode ter para nós, enquanto leitores, outras obras que nos marcaram e transformaram a nossa visão do mundo. A importância da imaginação e da criatividade nos contextos da leitura mas também da sala de aula; a importância de nos apropriarmos dos textos e produzir outros textos; afeiçoá-los àquilo que somos porque “Crescer é afeiçoar as coisas a nosso modo” (como disse a professora M.ª Graciete Silva). Foi retomada a eterna discussão entre linguistas e literatos. Falou-se de manuais escolares, comparando Portugal a outros países europeus; a importância num professor de profundidade de conhecimento, paixão, sentido crítico e sabedoria em distinguir entre o essencial e o acessório. Discutiu-se o conhecimento gramatical implícito que as crianças já trazem ao entrar para a escola (e daí a conclusão que é necessário um maior diálogo entre investigadores e professores que estão no terreno), a importância de criar mais actividades didácticas e pôr em prática os conhecimentos. Falou-se de Gil Vicente e de História da Língua; de Camões e de tradição literária; de Alexandre O’Neill e da possibilidade em conjugar língua e literatura. E é claro a importância do texto poético e da aprendizagem da língua materna, ambos tem qualquer coisa (uns diriam um não sei quê) de intraduzível.
Falou-se de tantas outras coisas, aconteceu tantas outras coisas, nem era meu objectivo tentar resumi-las (como fiz no parágrafo anterior) porque sinto que foi tal e qual como a experiência de ler um poema que fez sentido em mim, isto é, li-o e apercebi-me que era mesmo aquilo, dizê-lo por outras palavras? Não consigo! Como muito bem resumiu Carlos Ceia, “um poema que encontrou as palavras que nunca poderemos dizer”.
O desafio de criar “o nosso programa da disciplina” (pela professora Graça Videira Lopes) e o desafio do professor Rui Zink em ver as coisas ao contrário (do outro lado do espelho da Alice, como referiu outro participante nas Jornadas) e perceber que “somos mais imaginativos quando não o queremos ser”.

Revisitações _ parte 1

Optei por dar o título de Revisitações porque no fundo o que tenho em mente para este texto [são três partes de um só texto] é mesmo uma revisitação (ou várias) a dois dias muito significativos, cheios de partilha, que foram os dias consagrados às “Jornadas de Português – Dúvidas e Revisões”.
Antes de mais, foi uma grande honra para mim estar não só no meio de grandes especialistas da literatura e da língua (em vários sentidos) mas também no meio de professores, cuja profissão quero acarinhar no futuro. Acho que hoje em dia é dado menos valor ao professor, esquecemos contudo, que ele é (ou devia ser) em primeiro lugar um educador, um pedagogo, que conduz (cf. verbo grego ago) os alunos. E os educadores, como foi referido nestas Jornadas, não são apenas aqueles que transmitem (e muitos debitam) conhecimento (pois para isso temos os inúmeros manuais em livro ou CD-ROM ou DVD que se vendem por aí). Seria como uma receita de cozinha se o estudo da Literatura tivesse “receitas” (se calhar até tem algumas!): se a receita é a mesma porque é que nalguns casos sai mal, noutros bem? Porque, como dizia, um professor não transmite apenas o conhecimento mas também o sentimento. É muito mais fácil aprender um assunto de que gostamos muito e é muito mais fácil aprender de alguém que, para além de saber / de ter conhecimentos, adora aquilo que faz e aquilo que ensina. Como disse Emília Amor: “que a voz de quem diz se afeiçoe aos textos e que faça os outros também se afeiçoar”.
Por isso foi com grande prazer que ouvi todas aquelas apresentações e de estar ali no meio daquela “classe” a que um dia gostaria de pertencer.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Terra Sonâmbula


A obra de Mia Couto, Terra Sonâmbula, já está nos cinemas. Vale a pena ir ver.
"O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro." (fala de Tuahir)
Terra Sonâmbula, publicado pela primeira vez em 1992, é um romance que retrata pelos olhos de essencialmente três personagens - Tuahir (um velho), Muidinga (um miúdo) e Kindzu (um homem, o narrador) - um pouco da realidade de Moçambique nos "recentes tempos de guerra". Numa mistura de desespero e esperança, realidade e fantasia, as personagens deste romance se intercruzam, se influenciam.
Muidinga, "um miúdo" que não sabe nada do seu passado caminha ao longo de uma estrada na companhia de Tuahir, "um velho". À medida que vão vivendo as suas próximas experiências entram no mundo de Kindzu, autor/escritor de uns cadernos encontrados dentro de uma maleta fechada.
Kindzu conta a sua vida nessas páginas mas também relata, com maior ou menor objectividade, a história de outras personagens, com o cenário da guerra, com o barulho das metralhadoras ao fundo. São histórias dentro de histórias.
À medida que o livro avança, apercebemo-nos das coincidências entre os dois mundos que se cruzam enfim num misto de magia, mistério e esperança.
Para quem ainda não leu, aconselho vivamente.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Sozinho, o leitor olha o livro...


Sozinho, o leitor olha o livro: nele não estão apenas páginas e páginas pintadas de tinta (talvez seja esta a ideia para quem não sabe ler); para o leitor, mesmo não muito experiente, sabe que quando abrir o livro inicia uma viagem.
Antes de ler, o leitor imagina já como vai ser essa viagem: pelo título do livro, pelo nome do autor, pelo resumo da contracapa, indicação do género literário, características materiais de apresentação do texto, etc. Falamos de um "horizonte de expectativas": entendemos por este conceito todo um conjunto de expectativas que o leitor tem em relação ao texto que vai ler, com base em pequenas coisas, nomeadas anteriormente. Todos esses elementos condicionam o leitor para começar ou não a sua viagem com o livro. Quantas vezes não somos repelidos apenas por um título, e, pelo contrário, quantas vezes não somos chamados, incentivados por aquelas letras na capa de um livro, naquele livro fechado que ainda não se abriu.
O livro está lá, quieto, impassível como uma "mala, fechada, intacta". O leitor abre o livro e começa, as páginas assim abertas parecem chamá-lo, cheias de vida, há uma chama que se acende. Dentro daquela "mala" está um tesouro, que brilha, ilumina e cega. A leitura é o caminho para alcançá-lo.
O leitor enche-se de curiosidade, de vertigens. Começa uma viagem desconhecida. Vai com passo lento num primeiro momento, depois apressa-se. É preciso ir desbravando os caminhos nas palavras, descodificando as letras.
Um exemplo elucidativo deste começo é descrito em Terra Sonâmbula de Mia Couto: "Balbucia letra a letra, percorrendo o lento desenho de cada uma. Sorri com a satisfação de uma conquista. Vai-se habituando, ganhando despacho. (...) O miúdo lê em voz alta. Seus olhos se abrem mais que a voz que, lenta e cuidadosamente, vai decifrando as letras".

Esse caminho de que falava pode não ser, nem é, o mesmo para cada um de nós. E podemos nem chegar ao fim da viagem. Podemos mesmo não encontrar o tesouro último que o livro encerra. Será isso que importa? Mesmo que ao longo do caminho encontremos vários tesouros, mesmo que encontremos algo de que precisávamos na nossa viagem, mesmo que apenas a caminhada nos deleite e nos deixe maravilhados? Talvez o importante seja mesmo esse caminhar, em que ao mesmo tempo aprendemos e nos deleitamos com a paisagem.

Os temas da leitura e da viagem são daqueles que mais me fascinam, voltarei a eles sempre que puder. Até lá percorram muitos caminhos e estejam atentos...

domingo, 4 de maio de 2008

Especial Dia da Mãe

Hoje é dia da Mãe.
Mães não são só aquelas que nos trazem ao mundo, são pessoas que nos educam, nos acarinham, nos dão todo o amor do mundo, nos protegem, nos encoragam nos nossos sonhos. E ás vezes há pessoas que, não sendo nossas mães, são nossas avós, que são "segundas mães". E que mesmo não sendo, por vezes, nossas avós biológicas, amam-nos tanto ou ainda mais.
Hoje quero aqui deixar um poema que é da autoria da minha avó Rosa, mãe da minha mãe, que não sendo a melhor pessoa do mundo (e/ou mesmo a melhor poetisa), tem alguns poemas bonitos e profundos. Hoje publico um que é dedicado á Mãe.

Ó minha mãe,
Minha árvore,
Minha manta de retalhos.
Por muitos filhos que tenhas
Não há nenhum que te pague
O carinho dos teus galhos.


A minha homenagem a todas as "grandes" mães deste mundo.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Fios que se entrelaçam


Se fores puxando os fios soltos de uma manta de retalhos acabas por ter nas mãos longos fios coloridos; desenlaçados já não formam nenhuma manta. Decompõe um texto e vais encontrar parágrafos, frases, palavras, letras. Por outro lado, podes isolar os espaços, os tempos, as personagens, a moral da história, o mito inerente, … e com eles construíres um outro texto que pode já não ter nada a ver com aquele que leste.
O texto é construído como uma manta de retalhos, o texto é tecido, etimologicamente falando. É como se tivesses os fios nas tuas mãos e pouco a pouco eles fossem tomando uma forma. E as tuas mãos e o teu coração juntamente com o teu cérebro vão tecendo uma peça única, exemplar, que só tu podias ter tecido e mais ninguém.
Assim como a tua personalidade HOJE depende de muitas coisas (experiências, pessoas, lugares, livros, filmes, momentos,…); ela é fruto daquilo que viveste no passado e daquilo que vives no presente; um texto literário também remete para toda uma tradição literária de há vários séculos e milénios. O HOJE só é possível porque houve um PASSADO.
No fundo, o texto é uma teia complexa que remete sempre para outros textos, textos que foram, textos que serão. Tinha uma professora que costumava dizer que tínhamos que fazer perguntas ao texto, pois ele próprio tinha as respostas. E para fazermos a análise desse texto era preciso ouvir aquilo que ele tinha para nos dizer. Se ouvirmos bem, se lermos nas entrelinhas, se preenchermos os espaços em branco de que fala Umberto Eco é possível não só interpretá-lo mas até quem sabe, remeter-nos para outros textos, que já lemos (pois até parece que há ali pontos de ligação, pontos que se podem comparar) ou mesmo aqueles que nunca lemos e que se calhar é necessário para uma melhor compreensão do texto primeiro. No primeiro caso, lembro-me duma frase de Roland Barthes que não resisto a pô-la aqui: “Nunca vos aconteceu, ao ler um livro, interromper constantemente a vossa leitura, não por desinteresse, mas, pelo contrário, por afluxo de ideias, de excitações, de associações? Numa palavra, não vos aconteceu ter levantado a cabeça?” (Barthes, Roland. «Escrever a leitura» in O Rumor da Língua).
Mesmo que os textos não tenham tido influência directa, é inegável que voltamos sempre aos mesmos temas e motivos. Uma outra frase que eu adoro e que vou partilhar é esta: “… porque o Homem vive dos seus mitos onde se reencontra e se continua” (Trousson, Raymond. Temas e Mitos. Questões de Método). E durante milénios não se continua a falar de AMOR, de AMIZADE, de SAUDADE, de MORTE, de VINGANÇA, de ÓDIO? Não continuam hoje presentes mitos clássicos, na nossa literatura, na nossa pintura, no nosso teatro, mesmo na ciência??? Não continuamos a viajar com Guilgamesh e Ulisses? Não continuamos a ir buscar coisas a Platão e a Aristóteles? Não continuamos a usar expressões com origem clássica? Todos esses temas / mitos / motivos continuam vivos hoje porque continuam a fazer sentido. Há nesses mitos, nesses temas, qualquer coisa de humano, que faz parte da minha essência e da essência do outro, fazem sentido porque chegam ao fundo da minha alma. Fazem sentido porque são universais. É claro que em cada época e em cada lugar, as histórias vão-se adaptando às necessidades e cada pessoa as recria consoante aquilo que é, onde e quando vive. Lá está o provérbio: Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto!
Ouvimos contar histórias desde a barriga da mãe ou do berço; a vida humana faz-se em ouvir e contar histórias. Faz parte daquilo que somos, da nossa identidade humana. E somos então chamados a fazer falar os textos, para que eles não vivam num bloco isolado mas dialoguem com outros textos. Façam-se pontes, em vez de muros! E relacionemos os textos literários com textos do mesmo período, com textos antigos, com textos de outras áreas e mesmo, porque não? Relacionar a literatura com outras artes, como a pintura, a música, etc.
Continua a tecer, acrescenta tu mais um ponto na enorme manta de retalhos que é a tradição literária. Descose mesmo parte dela, vê de que matéria é feita e cose-a de diferente modo, faz outro tipo de relações, constrói algo novo. Conta-me uma história…

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Ítaca



Konstantinos Kaváfis (1863 – 1933)

Ítaca (1911)

Quando partires em direcção a Ítaca,

reza para que o caminho seja longo,
repleto de aventuras e pleno de conhecimento.
Não temas Laestrigones e Ciclopes nem o furioso Poseidon:
Nunca os encontrarás no teu caminho
enquanto mantiveres o teu espírito elevado,
enquanto uma rara emoção agitar o teu espírito e o teu corpo.
Nunca encontrarás os Ciclopes ou outros monstros
a não ser que os tragas contigo dentro da tua alma,
a não ser que a tua alma os crie em frente a ti.

Deseja que o caminho seja bem longo
para que haja muitas manhãs de verão em que,
com quanto prazer, com tanta alegria,
entres em portos que vês pela primeira vez;
Para que possas parar em postos de comércio fenícios
para comprar coisas finas, madrepérola, coral e âmbar
e perfumes sensuais de todos os tipos -
tantos quantos puderes encontrar;
e para que possas visitar muitas cidades egípcias
e aprender com um povo que tem tanto a ensinar.

Terás sempre Ítaca no teu espírito
Lá chegar é o teu destino último.
Mas não te apresses nunca na viagem.
É melhor que ela dure muitos anos,

que sejas velho já ao ancorar da ilha
Rico do que foi teu pelo caminho e sem
esperar que Ítaca te dê riquezas.

Ítaca deu-te essa viagem esplêndida.
Sem Ítaca não terias partido.
Mas Ítaca não tem mais para dar-te.

Por pobre que a descubras, Ítaca não te traiu.
Sábio como és agora, senhor de tanta experiência,
Terás compreendido o sentido de Ítaca.


Fontes (adaptação):
a) Alegre, Manuel (1999). “Atlântico, minha página, Atlântico, minha pátria” in Mildonian, Paola (coord, 2002). A Porta do Oriente: Viagens e Poesia. Lisboa: Edições Cosmos.
b) Coelho, Paulo (2005). O Zahir. Cascais: Pergaminho.
c) Wikipédia.

Os bosques da Literatura


Imagina que estás de frente a uma cancela fechada. Do outro lado existe um bosque que queres percorrer mas que ainda não sabes muito bem onde te vai levar nem o que vais encontrar. Cá fora há um letreiro que diz: “Abre e entra no mundo mágico da ficção”. Convidam-te a fazer uma viagem, podes inclusivamente levar toda a bagagem contigo: memórias, aprendizagens, saudades, sonhos, … Mas mesmo assim sentes medo… do que irás encontrar (será o que esperas?) ou mesmo de te perderes e não encontrares o caminho de volta. Mas não é preciso ter medo quando se entra no bosque da literatura, é outro mundo, é um jogo… e tens sempre a hipótese (e a obrigatoriedade) de voltar. Às vezes é como a Terra do Nunca donde não queremos regressar, porque não queremos crescer, porque participamos em aventuras maravilhosas com os nossos heróis preferidos, mas há sempre alguém que nos diz (ás vezes o próprio narrador) que está na altura de voltarmos. “Então para que serviu a viagem?”, poderás perguntar com grande legitimidade. Serviu para te enriquecer, para te abrir a novos horizontes, a situações novas, para aprenderes… A Literatura pode ser comparada à Vida na medida em que em ambas há um percurso a percorrer, uma Viagem. E quando se viaja encontra-se sempre algo novo / diferente, algo que não estavas à espera ou algo que querias mesmo encontrar. Vais ao encontro do desconhecido corajosamente e, no fim da viagem, ficas sempre mais rico pelas descobertas que fizeste em relação a ti e/ou ao mundo e pelo que aprendeste com os outros ou na tua relação com o outro.
Estas metáforas não são novas, muitos escritores já o fizerem ao longo de séculos implícita ou explicitamente. Por exemplo, Umberto Eco tem um livro intitulado Seis Passeios pelos Bosques da Ficção onde fala sobre diversas questões relativas ao mundo ficcional e um dos mais importantes livros sobre Literatura Comparada tem mesmo o título de Floresta Encantada.
Ao longo deste semestre, ou talvez mais adiante, tentarei fazer esta viagem pelos bosques da literatura percorrendo várias veredas, assinalando várias árvores. Convido pois todos aqueles que me quiserem acompanhar a empreender uma viagem tão conhecida já mas sempre nova à segunda ou terceira vez que se empreende.
Abre a cancela e entra...

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Nada na vida acontece por acaso

Fazendo umas pesquisas na Floresta Encantada que é a Internet, encontrei este lindo texto:

"Nunca deixe de abrir uma nova porta.
Por ela podem entrar amigos inesperados,
amores verdadeiros, aventuras inesquecíveis...
E não se esqueça, principalmente,
de manter a janela bem aberta.
Ela trará, ao fim de cada dia,
um lindo Pôr-do-Sol.
Nada na vida acontece por acaso".

Mtos Bjinhos,

Anita

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O princípio...

Bem-vindos!!!
Criei este blog mais para ver como era. Ainda não sei bem o que vou colocar aqui mas tenho a certeza que as ideias virão a seu tempo. Até lá, sejam felizes!!!