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sábado, 18 de outubro de 2008

O valor de educar

Nas minhas aulas do mestrado de ensino, uma das professoras deu-nos este texto para trabalharmos. Achei-o tão lindo e tão rico que quero partilhá-lo convosco. Espero que gostem e que dê para reflectir um pouco sobre esta coisa engraçada, difícil e problemática chamada educação.


«Pode aprender-se muito sobre o que nos rodeia sem que ninguém no-lo ensine nem directa nem indirectamente (adquirimos desta maneira grande parte dos nossos conhecimentos mais funcionais), mas a contrapartida a chave para entrar no jardim simbólico dos significados temos de a pedir sempre aos nossos semelhantes. Daí o profundo erro actual de homologar a dialéctica educativa com o sistema com que se programa a informação dos computadores. Processar informação não é o mesmo que compreender significados.Nem muito menos é o mesmo que participar na transformação dos significados ou na criação de outros novos. Inclusive para processar informação humanamente útil faz falta ter recebido, prévia e basicamente, treino na compreensão de significados. O significado é aquilo que eu não posso inventar, adquirir ou sustentar isoladamente porque depende da mente dos outros. A verdadeira educação não só consiste em ensinar a pensar mas também em aprender a pensar sobre o que se pensa e este momento reflexivo - aquele que com maior nitidez assinala o nosso salto evolutivo em relação a outras espécies - exige constatar a nossa pertença a uma comunidade de criaturas pensantes. Tudo pode ser privado e inefável - sensações, pulsões, desejos... - excepto aquilo que nos torna participantes de um universo simbólico a que chamamos «humanidade».

(...) Assim, o primeiro objectivo da educação consiste em tomarmos consciência da realidade dos nossos semelhantes. Isto é: temos de aprender a ler as suas mentes, o que não equivale simplesmente à destreza estratégica de prever as suas reacções e adiantarmo-nos a elas para condicioná-las a nosso favor, mas antes implica atribuir-lhes estados mentais iguais aos nossos e inclusivamente deles dependendo a própria qualidade dos nossos. O que implica considerá-los sujeitos e não meros objectos; protagonistas da sua vida e não meros comparsas ocos da nossa.

(...) A realidade dos nossos semelhantes implica que todos somos protagonistas do mesmo conto: eles contam para nós, contam-nos coisas e ao ouvi-los ganha sentido o conto que nós próprios também vamos contando... Ninguém é pessoa solitária e isoladamente; é-se sempre pessoa entre pessoas: o sentido da vida humana não é um monólogo mas antes provém do intercâmbio de sentidos, da polifonia coral. Em primeiro lugar, a educação é a revelação dos outros, da condição humana como um concerto de cumplicidades inevitáveis.»

Fernando Savater, El Valor de Educar