domingo, 11 de maio de 2008

Revisitações _ parte 3

Ao fim de dois dias de verdadeiras “aulas” de reflexão sobre «como ser um bom professor de português?» ou «o que é uma boa aula de português?», senti-me tentada a escrever. Como se dizia existe sempre esta recursividade: ler, escrever, ler, escrever, …. Com grandes especialistas da língua e do seu ensino cada vez estou mais convencida da magia que é “dar” literatura, não no sentido de me “despachar” dos conteúdos ou das obras mas de os transmitir, de levar outros ao conhecimento e à interpretação, de levar à reflexão e ao espírito crítico e à “indisciplina” de que falava o professor Gustavo Rubim. Porque é preciso trabalhar com os textos, é preciso ver que eles são abertos e a nossa leitura não pode ser disciplinada para um único sentido do texto. Que o seu sentido nem está lá (como as bolachas dentro de uma caixa, metáfora da professora Silvina Lopes referida pela professora M.ª Graciete Silva) mas que se vai construindo pela leitura. O nosso cuidado com a língua, enquanto professores e/ou mediadores da leitura tem ir para além da palavra escrita, deixar o linear e ir ao alegórico. Não podemos é deixar-nos levar para os dois limites, “no meio é que está a virtude” como dizia Horácio.
Ao fim de dois dias de verdadeiras “aulas” de reflexão e partilha de saberes, conclui que aquilo que verdadeiramente quero é ensinar o português, a literatura portuguesa. E que as dificuldades do caminho para consegui-lo e para possivelmente continuar a ser professora não me devem impedir de ver a riqueza da minha língua materna, de sentir a magia da literatura portuguesa, de admirar a intraduzibilidade de um poema, de ter nas minhas mãos o poder de transmitir não só conhecimento mas sentimento.
Os especialistas da língua e da sua didáctica e os “oficiais do mesmo ofício” (como falava a professora Graciete) mostraram-me que é preciso manter acesa essa chama, essa vontade de levar a cabo uma tarefa complicada que é ser-se professor. E um dia, quando as dificuldades forem muitas, voltar atrás, revisitar de novo estas revisitações.

2 comentários:

Anónimo disse...

É curioso como tendo estado no esmo sítio que a Anita, fiquei com impressões completamente diferentes.

Eu achei as jornadas muito más, com intervenções de muito fraca qualidade. Pareceu-me que, à excepção das conferências sobre gramática, não havia ali qualquer ligação ao que se passa nas escolas. Pelo contrário, opinaram que se fartaram sobre programas, curriculo nacional e tudo o mais, dizendo-se, de forma muito leviana, coisas que não estão nos programas.
Devo mesmo dizer que saí de lá triste. Volto com alegria para a escola porque sei que tenho lá colegas que, como eu, se esforçam para dar o seu melhor e não se limitam a dizer lugares-comuns.
O professor João Costa dizia que estávamos ali porque a universidade tinha algo a transmitir sobre o ensino, caso contrário podiamos ter ficado no café a opinar. Foi o que eu senti. Tirando a conferência dele, da professora Armanda Costa e do professor José Cardoso Bernardes, senti que não tínhamos ido muito além da mera conversa de café.

Acho que merecemos melhor!

Anita disse...

Querida Mª José,

Desde já agradeço a sua visita e o seu comentário, obrigada! De facto, ouvi bastantes contestações por parte dos presentes e fiquei com a sensação que muitas intervenções não eram aquilo que a assembleia em geral estava à espera.
Eu sou estudante e, se calhar também devido à minha personalidade, achei interessante o conteúdo das Jornadas. Tocaram-me porque senti que muitas das pessoas que falaram (não só os professores universitários mas também as intervenções dos professores que estavam na assembleia), falaram com sentimento, com amor pela sua profissão. Contudo, reconheço que as apresentações não foram muito no sentido do prático e do concreto.
Como digo no texto, quero no futuro acarinhar a profissão de professor e sei que a faculdade não me prepara o suficiente para essa tarefa. Mas quero continuar a acreditar que as coisas no ensino e na preparação para os novos professores de português possam vir a melhorar.
E concordo consigo quando diz que os professores merecem melhor.

Volte sempre que quiser. Será sempre bem-vinda.

Anita