"O essencial é invisível para os olhos".
"Foi o tempo que perdeste com a tua rosa, que tornou a tua rosa tão importante".
Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry
O dia 5 de Dezembro foi um dia triste, mais triste foi o dia a seguir e os outros que se seguiram. É incrível como já lá vão três anos, já acabei a licenciatura, já estou no mestrado. Já trabalho, não como professora, mas na minha área. A nossa cidade mudou, está quase irreconhecível…, o tempo está mais frio e menos chuvoso, os Jogos Olímpicos foram na China, o Obama é Presidente, … enfim, tanta coisa que aconteceu!
Mas o dia 5 de Dezembro foi triste e talvez continue sendo triste por alguns anos… é mesmo assim… há dias tristes (dias fastos e nefastos, já disso os latinos tinham consciência).
Ainda revivo essa semana como se fosse um sonho, não consigo dizer exactamente o que aconteceu, já não estou certa do que senti, do que ouvi, do que presenciei. Não estou certa se tudo não foi mesmo um sonho e ainda estás aí, algures, esperando por mim, para irmos juntas para a escola.
Já recebi muitas notícias tristes, mas aquela acho que foi a mais triste, a mais difícil de acreditar e de compreender. Quando pensamos as coisas de uma maneira, quando vemos o mundo com óculos cor-de-rosa, com a certeza de que nós e os que nos rodeiam estão protegidos, é difícil aceitar injustiças e a “não-lógica” de Deus. E é difícil perdoar…
Foi no dia 6 de Dezembro que recebi a notícia. Sei que estava a almoçar, que não consegui comer mais nada, que fui para casa na companhia da M. e desatei a chorar quando ela me perguntou se estava bem. Sei que a C. me telefonou porque soubera da notícia e queria saber se estava bem. Sei que fui à nossa escola, não sei bem por quê, procurar alguém que me pudesse abraçar, alguém que compreendesse a minha dor. E encontrei! Nos dias, meses que se seguiram tentámos “remediar” as coisas, fazer justiça, mas já não havia nada a fazer. Apenas seguir com as nossas vidas…
Assim foi, me disseram, que algures no meio do deserto que é o nosso mundo, desapareceste tal qual o Principezinho. Ficamos sem saber ao certo o final da história, ficamos na dúvida. Mas há uma certeza que fica e que dói: já lá não está o Principezinho, nem tu estás entre nós. E penso que a Terra ficou mais pobre, sem Principezinho, que nos traz todo um simbolismo de pureza, de amizade, de verdade, de essência; e penso que a Terra ficou mais pobre, sem ti, minha amiga do coração, que nos trouxeste muitas vezes actos de beleza e de amizade, de verdade e de perdão, que não se encontram muito por aqui.
Contudo, não posso ser tão pessimista: acredito que semeaste boas sementes no coração de outras pessoas e que elas irão dar fruto a seu tempo.
Foste um autêntico Principezinho entre nós: teimosa, orgulhosa, determinada, crítica, forte apesar de frágil, …, mas sempre a pensar nas “flores” que deixaste sozinhas e que apenas têm três espinhos para se defenderem, mesmo quando esses mesmos espinhos já fizeram muitas feridas. Sempre a pensar em melhorar a situação do outro, a defender e a perdoar quem amas e não merece.
Sabes Ana, durante muito tempo ouvi os guizos nas estrelas, olhava para elas todas as noites e sorria, porque sabia que estavas bem, finalmente, tinhas que estar, não é? Precisava de acreditar que sim. E ao ver as estrelas, fui compreendo que não estavas totalmente ausente. A propósito do Principezinho, há uma frase que eu gosto muito: “Nem tudo acaba quando a vida terrena termina, em qualquer estrela do céu se pode ver a luz de uma alma que partiu”. Esta frase posso aplicá-la a ti, posso continuar a pensar que estás aí, algures, nesse Universo profundo e misterioso.
Sabes Ana, agora já não olho as estrelas todas as noites, mas penso em ti muitas vezes: penso no que poderias ter sido, nos tantos sonhos e projectos que poderias concretizar. Ainda me esqueço do que aconteceu e penso ver-te em alguém parecido contigo… depois lembro-me. Ainda vejo os teus problemas e dúvidas em outras pessoas e penso que tenho o dever de ajudar, que posso ajudar. E penso que até já ajudei alguém, por aquilo que me ensinaste, pelo menos deixei “marca”… Também vejo as tuas qualidades, pessoas que me surpreendem com os seus actos e palavras… e sorrio, porque ainda existem boas pessoas no mundo. Mas quantas mais poderias tu influenciar?
E também penso quantas pessoas tiveram a sorte de cruzar o seu caminho com o teu e tiveram oportunidade de ter uma grande amiga como tu. Apesar de já não estares aqui, sinto-me privilegiada… num postal de um dos meus aniversários, escreveste que tudo aquilo que tinhas escrito, tinha sido eu a ensinar-te, mas sinto que me ensinaste mais ainda. Ajudaste-me a crescer e a ver o mundo de outra maneira; ajudaste-me a crer nas pessoas, mesmo que por vezes me desiluda com elas; ajudaste-me a ver os que são diferentes de nós; ajudaste-me a sentir importante e a responsabilizar-me por cada palavra ou por cada acção.
Mas seguirei em frente, Ana, com coragem e determinação, com um sorriso no rosto. Sem culpas, sem remorsos, apenas com a consciência de que fiz o que estava ao meu alcance, que fiz o que as minhas capacidades limitadas de ver e mudar o mundo me consentiram. Sei que perdoaste todas aquelas coisas que fiz menos bem ou aquilo que deveria ter feito (hoje sei!) e não fiz… e sei, conscientemente, que sempre desejaste a minha felicidade.
Trabalharei para ser feliz e nunca te esquecerei!
Anita
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