Ao fim de dois dias de verdadeiras “aulas” de reflexão sobre «como ser um bom professor de português?» ou «o que é uma boa aula de português?», senti-me tentada a escrever. Como se dizia existe sempre esta recursividade: ler, escrever, ler, escrever, …. Com grandes especialistas da língua e do seu ensino cada vez estou mais convencida da magia que é “dar” literatura, não no sentido de me “despachar” dos conteúdos ou das obras mas de os transmitir, de levar outros ao conhecimento e à interpretação, de levar à reflexão e ao espírito crítico e à “indisciplina” de que falava o professor Gustavo Rubim. Porque é preciso trabalhar com os textos, é preciso ver que eles são abertos e a nossa leitura não pode ser disciplinada para um único sentido do texto. Que o seu sentido nem está lá (como as bolachas dentro de uma caixa, metáfora da professora Silvina Lopes referida pela professora M.ª Graciete Silva) mas que se vai construindo pela leitura. O nosso cuidado com a língua, enquanto professores e/ou mediadores da leitura tem ir para além da palavra escrita, deixar o linear e ir ao alegórico. Não podemos é deixar-nos levar para os dois limites, “no meio é que está a virtude” como dizia Horácio.
Ao fim de dois dias de verdadeiras “aulas” de reflexão e partilha de saberes, conclui que aquilo que verdadeiramente quero é ensinar o português, a literatura portuguesa. E que as dificuldades do caminho para consegui-lo e para possivelmente continuar a ser professora não me devem impedir de ver a riqueza da minha língua materna, de sentir a magia da literatura portuguesa, de admirar a intraduzibilidade de um poema, de ter nas minhas mãos o poder de transmitir não só conhecimento mas sentimento.
Os especialistas da língua e da sua didáctica e os “oficiais do mesmo ofício” (como falava a professora Graciete) mostraram-me que é preciso manter acesa essa chama, essa vontade de levar a cabo uma tarefa complicada que é ser-se professor. E um dia, quando as dificuldades forem muitas, voltar atrás, revisitar de novo estas revisitações.
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domingo, 11 de maio de 2008
Revisitações _ parte 2
Falou-se de tudo um pouco: a importância da leitura (nomeadamente o projecto “Plano Nacional de Leitura: Ler e Escrever mais e melhor”) e como lemos e compreendemos os textos (investigação exploratória); a questão do cânone literário e da importância que pode ter para nós, enquanto leitores, outras obras que nos marcaram e transformaram a nossa visão do mundo. A importância da imaginação e da criatividade nos contextos da leitura mas também da sala de aula; a importância de nos apropriarmos dos textos e produzir outros textos; afeiçoá-los àquilo que somos porque “Crescer é afeiçoar as coisas a nosso modo” (como disse a professora M.ª Graciete Silva). Foi retomada a eterna discussão entre linguistas e literatos. Falou-se de manuais escolares, comparando Portugal a outros países europeus; a importância num professor de profundidade de conhecimento, paixão, sentido crítico e sabedoria em distinguir entre o essencial e o acessório. Discutiu-se o conhecimento gramatical implícito que as crianças já trazem ao entrar para a escola (e daí a conclusão que é necessário um maior diálogo entre investigadores e professores que estão no terreno), a importância de criar mais actividades didácticas e pôr em prática os conhecimentos. Falou-se de Gil Vicente e de História da Língua; de Camões e de tradição literária; de Alexandre O’Neill e da possibilidade em conjugar língua e literatura. E é claro a importância do texto poético e da aprendizagem da língua materna, ambos tem qualquer coisa (uns diriam um não sei quê) de intraduzível.
Falou-se de tantas outras coisas, aconteceu tantas outras coisas, nem era meu objectivo tentar resumi-las (como fiz no parágrafo anterior) porque sinto que foi tal e qual como a experiência de ler um poema que fez sentido em mim, isto é, li-o e apercebi-me que era mesmo aquilo, dizê-lo por outras palavras? Não consigo! Como muito bem resumiu Carlos Ceia, “um poema que encontrou as palavras que nunca poderemos dizer”.
O desafio de criar “o nosso programa da disciplina” (pela professora Graça Videira Lopes) e o desafio do professor Rui Zink em ver as coisas ao contrário (do outro lado do espelho da Alice, como referiu outro participante nas Jornadas) e perceber que “somos mais imaginativos quando não o queremos ser”.
Falou-se de tantas outras coisas, aconteceu tantas outras coisas, nem era meu objectivo tentar resumi-las (como fiz no parágrafo anterior) porque sinto que foi tal e qual como a experiência de ler um poema que fez sentido em mim, isto é, li-o e apercebi-me que era mesmo aquilo, dizê-lo por outras palavras? Não consigo! Como muito bem resumiu Carlos Ceia, “um poema que encontrou as palavras que nunca poderemos dizer”.
O desafio de criar “o nosso programa da disciplina” (pela professora Graça Videira Lopes) e o desafio do professor Rui Zink em ver as coisas ao contrário (do outro lado do espelho da Alice, como referiu outro participante nas Jornadas) e perceber que “somos mais imaginativos quando não o queremos ser”.
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Revisitações _ parte 1
Optei por dar o título de Revisitações porque no fundo o que tenho em mente para este texto [são três partes de um só texto] é mesmo uma revisitação (ou várias) a dois dias muito significativos, cheios de partilha, que foram os dias consagrados às “Jornadas de Português – Dúvidas e Revisões”.
Antes de mais, foi uma grande honra para mim estar não só no meio de grandes especialistas da literatura e da língua (em vários sentidos) mas também no meio de professores, cuja profissão quero acarinhar no futuro. Acho que hoje em dia é dado menos valor ao professor, esquecemos contudo, que ele é (ou devia ser) em primeiro lugar um educador, um pedagogo, que conduz (cf. verbo grego ago) os alunos. E os educadores, como foi referido nestas Jornadas, não são apenas aqueles que transmitem (e muitos debitam) conhecimento (pois para isso temos os inúmeros manuais em livro ou CD-ROM ou DVD que se vendem por aí). Seria como uma receita de cozinha se o estudo da Literatura tivesse “receitas” (se calhar até tem algumas!): se a receita é a mesma porque é que nalguns casos sai mal, noutros bem? Porque, como dizia, um professor não transmite apenas o conhecimento mas também o sentimento. É muito mais fácil aprender um assunto de que gostamos muito e é muito mais fácil aprender de alguém que, para além de saber / de ter conhecimentos, adora aquilo que faz e aquilo que ensina. Como disse Emília Amor: “que a voz de quem diz se afeiçoe aos textos e que faça os outros também se afeiçoar”.
Por isso foi com grande prazer que ouvi todas aquelas apresentações e de estar ali no meio daquela “classe” a que um dia gostaria de pertencer.
Antes de mais, foi uma grande honra para mim estar não só no meio de grandes especialistas da literatura e da língua (em vários sentidos) mas também no meio de professores, cuja profissão quero acarinhar no futuro. Acho que hoje em dia é dado menos valor ao professor, esquecemos contudo, que ele é (ou devia ser) em primeiro lugar um educador, um pedagogo, que conduz (cf. verbo grego ago) os alunos. E os educadores, como foi referido nestas Jornadas, não são apenas aqueles que transmitem (e muitos debitam) conhecimento (pois para isso temos os inúmeros manuais em livro ou CD-ROM ou DVD que se vendem por aí). Seria como uma receita de cozinha se o estudo da Literatura tivesse “receitas” (se calhar até tem algumas!): se a receita é a mesma porque é que nalguns casos sai mal, noutros bem? Porque, como dizia, um professor não transmite apenas o conhecimento mas também o sentimento. É muito mais fácil aprender um assunto de que gostamos muito e é muito mais fácil aprender de alguém que, para além de saber / de ter conhecimentos, adora aquilo que faz e aquilo que ensina. Como disse Emília Amor: “que a voz de quem diz se afeiçoe aos textos e que faça os outros também se afeiçoar”.
Por isso foi com grande prazer que ouvi todas aquelas apresentações e de estar ali no meio daquela “classe” a que um dia gostaria de pertencer.
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