sexta-feira, 25 de abril de 2008

Fios que se entrelaçam


Se fores puxando os fios soltos de uma manta de retalhos acabas por ter nas mãos longos fios coloridos; desenlaçados já não formam nenhuma manta. Decompõe um texto e vais encontrar parágrafos, frases, palavras, letras. Por outro lado, podes isolar os espaços, os tempos, as personagens, a moral da história, o mito inerente, … e com eles construíres um outro texto que pode já não ter nada a ver com aquele que leste.
O texto é construído como uma manta de retalhos, o texto é tecido, etimologicamente falando. É como se tivesses os fios nas tuas mãos e pouco a pouco eles fossem tomando uma forma. E as tuas mãos e o teu coração juntamente com o teu cérebro vão tecendo uma peça única, exemplar, que só tu podias ter tecido e mais ninguém.
Assim como a tua personalidade HOJE depende de muitas coisas (experiências, pessoas, lugares, livros, filmes, momentos,…); ela é fruto daquilo que viveste no passado e daquilo que vives no presente; um texto literário também remete para toda uma tradição literária de há vários séculos e milénios. O HOJE só é possível porque houve um PASSADO.
No fundo, o texto é uma teia complexa que remete sempre para outros textos, textos que foram, textos que serão. Tinha uma professora que costumava dizer que tínhamos que fazer perguntas ao texto, pois ele próprio tinha as respostas. E para fazermos a análise desse texto era preciso ouvir aquilo que ele tinha para nos dizer. Se ouvirmos bem, se lermos nas entrelinhas, se preenchermos os espaços em branco de que fala Umberto Eco é possível não só interpretá-lo mas até quem sabe, remeter-nos para outros textos, que já lemos (pois até parece que há ali pontos de ligação, pontos que se podem comparar) ou mesmo aqueles que nunca lemos e que se calhar é necessário para uma melhor compreensão do texto primeiro. No primeiro caso, lembro-me duma frase de Roland Barthes que não resisto a pô-la aqui: “Nunca vos aconteceu, ao ler um livro, interromper constantemente a vossa leitura, não por desinteresse, mas, pelo contrário, por afluxo de ideias, de excitações, de associações? Numa palavra, não vos aconteceu ter levantado a cabeça?” (Barthes, Roland. «Escrever a leitura» in O Rumor da Língua).
Mesmo que os textos não tenham tido influência directa, é inegável que voltamos sempre aos mesmos temas e motivos. Uma outra frase que eu adoro e que vou partilhar é esta: “… porque o Homem vive dos seus mitos onde se reencontra e se continua” (Trousson, Raymond. Temas e Mitos. Questões de Método). E durante milénios não se continua a falar de AMOR, de AMIZADE, de SAUDADE, de MORTE, de VINGANÇA, de ÓDIO? Não continuam hoje presentes mitos clássicos, na nossa literatura, na nossa pintura, no nosso teatro, mesmo na ciência??? Não continuamos a viajar com Guilgamesh e Ulisses? Não continuamos a ir buscar coisas a Platão e a Aristóteles? Não continuamos a usar expressões com origem clássica? Todos esses temas / mitos / motivos continuam vivos hoje porque continuam a fazer sentido. Há nesses mitos, nesses temas, qualquer coisa de humano, que faz parte da minha essência e da essência do outro, fazem sentido porque chegam ao fundo da minha alma. Fazem sentido porque são universais. É claro que em cada época e em cada lugar, as histórias vão-se adaptando às necessidades e cada pessoa as recria consoante aquilo que é, onde e quando vive. Lá está o provérbio: Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto!
Ouvimos contar histórias desde a barriga da mãe ou do berço; a vida humana faz-se em ouvir e contar histórias. Faz parte daquilo que somos, da nossa identidade humana. E somos então chamados a fazer falar os textos, para que eles não vivam num bloco isolado mas dialoguem com outros textos. Façam-se pontes, em vez de muros! E relacionemos os textos literários com textos do mesmo período, com textos antigos, com textos de outras áreas e mesmo, porque não? Relacionar a literatura com outras artes, como a pintura, a música, etc.
Continua a tecer, acrescenta tu mais um ponto na enorme manta de retalhos que é a tradição literária. Descose mesmo parte dela, vê de que matéria é feita e cose-a de diferente modo, faz outro tipo de relações, constrói algo novo. Conta-me uma história…

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Ítaca



Konstantinos Kaváfis (1863 – 1933)

Ítaca (1911)

Quando partires em direcção a Ítaca,

reza para que o caminho seja longo,
repleto de aventuras e pleno de conhecimento.
Não temas Laestrigones e Ciclopes nem o furioso Poseidon:
Nunca os encontrarás no teu caminho
enquanto mantiveres o teu espírito elevado,
enquanto uma rara emoção agitar o teu espírito e o teu corpo.
Nunca encontrarás os Ciclopes ou outros monstros
a não ser que os tragas contigo dentro da tua alma,
a não ser que a tua alma os crie em frente a ti.

Deseja que o caminho seja bem longo
para que haja muitas manhãs de verão em que,
com quanto prazer, com tanta alegria,
entres em portos que vês pela primeira vez;
Para que possas parar em postos de comércio fenícios
para comprar coisas finas, madrepérola, coral e âmbar
e perfumes sensuais de todos os tipos -
tantos quantos puderes encontrar;
e para que possas visitar muitas cidades egípcias
e aprender com um povo que tem tanto a ensinar.

Terás sempre Ítaca no teu espírito
Lá chegar é o teu destino último.
Mas não te apresses nunca na viagem.
É melhor que ela dure muitos anos,

que sejas velho já ao ancorar da ilha
Rico do que foi teu pelo caminho e sem
esperar que Ítaca te dê riquezas.

Ítaca deu-te essa viagem esplêndida.
Sem Ítaca não terias partido.
Mas Ítaca não tem mais para dar-te.

Por pobre que a descubras, Ítaca não te traiu.
Sábio como és agora, senhor de tanta experiência,
Terás compreendido o sentido de Ítaca.


Fontes (adaptação):
a) Alegre, Manuel (1999). “Atlântico, minha página, Atlântico, minha pátria” in Mildonian, Paola (coord, 2002). A Porta do Oriente: Viagens e Poesia. Lisboa: Edições Cosmos.
b) Coelho, Paulo (2005). O Zahir. Cascais: Pergaminho.
c) Wikipédia.

Os bosques da Literatura


Imagina que estás de frente a uma cancela fechada. Do outro lado existe um bosque que queres percorrer mas que ainda não sabes muito bem onde te vai levar nem o que vais encontrar. Cá fora há um letreiro que diz: “Abre e entra no mundo mágico da ficção”. Convidam-te a fazer uma viagem, podes inclusivamente levar toda a bagagem contigo: memórias, aprendizagens, saudades, sonhos, … Mas mesmo assim sentes medo… do que irás encontrar (será o que esperas?) ou mesmo de te perderes e não encontrares o caminho de volta. Mas não é preciso ter medo quando se entra no bosque da literatura, é outro mundo, é um jogo… e tens sempre a hipótese (e a obrigatoriedade) de voltar. Às vezes é como a Terra do Nunca donde não queremos regressar, porque não queremos crescer, porque participamos em aventuras maravilhosas com os nossos heróis preferidos, mas há sempre alguém que nos diz (ás vezes o próprio narrador) que está na altura de voltarmos. “Então para que serviu a viagem?”, poderás perguntar com grande legitimidade. Serviu para te enriquecer, para te abrir a novos horizontes, a situações novas, para aprenderes… A Literatura pode ser comparada à Vida na medida em que em ambas há um percurso a percorrer, uma Viagem. E quando se viaja encontra-se sempre algo novo / diferente, algo que não estavas à espera ou algo que querias mesmo encontrar. Vais ao encontro do desconhecido corajosamente e, no fim da viagem, ficas sempre mais rico pelas descobertas que fizeste em relação a ti e/ou ao mundo e pelo que aprendeste com os outros ou na tua relação com o outro.
Estas metáforas não são novas, muitos escritores já o fizerem ao longo de séculos implícita ou explicitamente. Por exemplo, Umberto Eco tem um livro intitulado Seis Passeios pelos Bosques da Ficção onde fala sobre diversas questões relativas ao mundo ficcional e um dos mais importantes livros sobre Literatura Comparada tem mesmo o título de Floresta Encantada.
Ao longo deste semestre, ou talvez mais adiante, tentarei fazer esta viagem pelos bosques da literatura percorrendo várias veredas, assinalando várias árvores. Convido pois todos aqueles que me quiserem acompanhar a empreender uma viagem tão conhecida já mas sempre nova à segunda ou terceira vez que se empreende.
Abre a cancela e entra...

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Nada na vida acontece por acaso

Fazendo umas pesquisas na Floresta Encantada que é a Internet, encontrei este lindo texto:

"Nunca deixe de abrir uma nova porta.
Por ela podem entrar amigos inesperados,
amores verdadeiros, aventuras inesquecíveis...
E não se esqueça, principalmente,
de manter a janela bem aberta.
Ela trará, ao fim de cada dia,
um lindo Pôr-do-Sol.
Nada na vida acontece por acaso".

Mtos Bjinhos,

Anita

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O princípio...

Bem-vindos!!!
Criei este blog mais para ver como era. Ainda não sei bem o que vou colocar aqui mas tenho a certeza que as ideias virão a seu tempo. Até lá, sejam felizes!!!