Se fores puxando os fios soltos de uma manta de retalhos acabas por ter nas mãos longos fios coloridos; desenlaçados já não formam nenhuma manta. Decompõe um texto e vais encontrar parágrafos, frases, palavras, letras. Por outro lado, podes isolar os espaços, os tempos, as personagens, a moral da história, o mito inerente, … e com eles construíres um outro texto que pode já não ter nada a ver com aquele que leste.
O texto é construído como uma manta de retalhos, o texto é tecido, etimologicamente falando. É como se tivesses os fios nas tuas mãos e pouco a pouco eles fossem tomando uma forma. E as tuas mãos e o teu coração juntamente com o teu cérebro vão tecendo uma peça única, exemplar, que só tu podias ter tecido e mais ninguém.
Assim como a tua personalidade HOJE depende de muitas coisas (experiências, pessoas, lugares, livros, filmes, momentos,…); ela é fruto daquilo que viveste no passado e daquilo que vives no presente; um texto literário também remete para toda uma tradição literária de há vários séculos e milénios. O HOJE só é possível porque houve um PASSADO.
No fundo, o texto é uma teia complexa que remete sempre para outros textos, textos que foram, textos que serão. Tinha uma professora que costumava dizer que tínhamos que fazer perguntas ao texto, pois ele próprio tinha as respostas. E para fazermos a análise desse texto era preciso ouvir aquilo que ele tinha para nos dizer. Se ouvirmos bem, se lermos nas entrelinhas, se preenchermos os espaços em branco de que fala Umberto Eco é possível não só interpretá-lo mas até quem sabe, remeter-nos para outros textos, que já lemos (pois até parece que há ali pontos de ligação, pontos que se podem comparar) ou mesmo aqueles que nunca lemos e que se calhar é necessário para uma melhor compreensão do texto primeiro. No primeiro caso, lembro-me duma frase de Roland Barthes que não resisto a pô-la aqui: “Nunca vos aconteceu, ao ler um livro, interromper constantemente a vossa leitura, não por desinteresse, mas, pelo contrário, por afluxo de ideias, de excitações, de associações? Numa palavra, não vos aconteceu ter levantado a cabeça?” (Barthes, Roland. «Escrever a leitura» in O Rumor da Língua).
Mesmo que os textos não tenham tido influência directa, é inegável que voltamos sempre aos mesmos temas e motivos. Uma outra frase que eu adoro e que vou partilhar é esta: “… porque o Homem vive dos seus mitos onde se reencontra e se continua” (Trousson, Raymond. Temas e Mitos. Questões de Método). E durante milénios não se continua a falar de AMOR, de AMIZADE, de SAUDADE, de MORTE, de VINGANÇA, de ÓDIO? Não continuam hoje presentes mitos clássicos, na nossa literatura, na nossa pintura, no nosso teatro, mesmo na ciência??? Não continuamos a viajar com Guilgamesh e Ulisses? Não continuamos a ir buscar coisas a Platão e a Aristóteles? Não continuamos a usar expressões com origem clássica? Todos esses temas / mitos / motivos continuam vivos hoje porque continuam a fazer sentido. Há nesses mitos, nesses temas, qualquer coisa de humano, que faz parte da minha essência e da essência do outro, fazem sentido porque chegam ao fundo da minha alma. Fazem sentido porque são universais. É claro que em cada época e em cada lugar, as histórias vão-se adaptando às necessidades e cada pessoa as recria consoante aquilo que é, onde e quando vive. Lá está o provérbio: Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto!
Ouvimos contar histórias desde a barriga da mãe ou do berço; a vida humana faz-se em ouvir e contar histórias. Faz parte daquilo que somos, da nossa identidade humana. E somos então chamados a fazer falar os textos, para que eles não vivam num bloco isolado mas dialoguem com outros textos. Façam-se pontes, em vez de muros! E relacionemos os textos literários com textos do mesmo período, com textos antigos, com textos de outras áreas e mesmo, porque não? Relacionar a literatura com outras artes, como a pintura, a música, etc.
Continua a tecer, acrescenta tu mais um ponto na enorme manta de retalhos que é a tradição literária. Descose mesmo parte dela, vê de que matéria é feita e cose-a de diferente modo, faz outro tipo de relações, constrói algo novo. Conta-me uma história…
O texto é construído como uma manta de retalhos, o texto é tecido, etimologicamente falando. É como se tivesses os fios nas tuas mãos e pouco a pouco eles fossem tomando uma forma. E as tuas mãos e o teu coração juntamente com o teu cérebro vão tecendo uma peça única, exemplar, que só tu podias ter tecido e mais ninguém.
Assim como a tua personalidade HOJE depende de muitas coisas (experiências, pessoas, lugares, livros, filmes, momentos,…); ela é fruto daquilo que viveste no passado e daquilo que vives no presente; um texto literário também remete para toda uma tradição literária de há vários séculos e milénios. O HOJE só é possível porque houve um PASSADO.
No fundo, o texto é uma teia complexa que remete sempre para outros textos, textos que foram, textos que serão. Tinha uma professora que costumava dizer que tínhamos que fazer perguntas ao texto, pois ele próprio tinha as respostas. E para fazermos a análise desse texto era preciso ouvir aquilo que ele tinha para nos dizer. Se ouvirmos bem, se lermos nas entrelinhas, se preenchermos os espaços em branco de que fala Umberto Eco é possível não só interpretá-lo mas até quem sabe, remeter-nos para outros textos, que já lemos (pois até parece que há ali pontos de ligação, pontos que se podem comparar) ou mesmo aqueles que nunca lemos e que se calhar é necessário para uma melhor compreensão do texto primeiro. No primeiro caso, lembro-me duma frase de Roland Barthes que não resisto a pô-la aqui: “Nunca vos aconteceu, ao ler um livro, interromper constantemente a vossa leitura, não por desinteresse, mas, pelo contrário, por afluxo de ideias, de excitações, de associações? Numa palavra, não vos aconteceu ter levantado a cabeça?” (Barthes, Roland. «Escrever a leitura» in O Rumor da Língua).
Mesmo que os textos não tenham tido influência directa, é inegável que voltamos sempre aos mesmos temas e motivos. Uma outra frase que eu adoro e que vou partilhar é esta: “… porque o Homem vive dos seus mitos onde se reencontra e se continua” (Trousson, Raymond. Temas e Mitos. Questões de Método). E durante milénios não se continua a falar de AMOR, de AMIZADE, de SAUDADE, de MORTE, de VINGANÇA, de ÓDIO? Não continuam hoje presentes mitos clássicos, na nossa literatura, na nossa pintura, no nosso teatro, mesmo na ciência??? Não continuamos a viajar com Guilgamesh e Ulisses? Não continuamos a ir buscar coisas a Platão e a Aristóteles? Não continuamos a usar expressões com origem clássica? Todos esses temas / mitos / motivos continuam vivos hoje porque continuam a fazer sentido. Há nesses mitos, nesses temas, qualquer coisa de humano, que faz parte da minha essência e da essência do outro, fazem sentido porque chegam ao fundo da minha alma. Fazem sentido porque são universais. É claro que em cada época e em cada lugar, as histórias vão-se adaptando às necessidades e cada pessoa as recria consoante aquilo que é, onde e quando vive. Lá está o provérbio: Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto!
Ouvimos contar histórias desde a barriga da mãe ou do berço; a vida humana faz-se em ouvir e contar histórias. Faz parte daquilo que somos, da nossa identidade humana. E somos então chamados a fazer falar os textos, para que eles não vivam num bloco isolado mas dialoguem com outros textos. Façam-se pontes, em vez de muros! E relacionemos os textos literários com textos do mesmo período, com textos antigos, com textos de outras áreas e mesmo, porque não? Relacionar a literatura com outras artes, como a pintura, a música, etc.
Continua a tecer, acrescenta tu mais um ponto na enorme manta de retalhos que é a tradição literária. Descose mesmo parte dela, vê de que matéria é feita e cose-a de diferente modo, faz outro tipo de relações, constrói algo novo. Conta-me uma história…