O Homem que Lê
Eu lia há muito. Desde que esta tarde
com o seu ruído de chuva chegou às janelas.
Abstraí-me do vento lá fora:
o meu livro era difícil.
Olhei as suas páginas como rostos
que se ensombram pela profunda reflexão
e em redor da minha leitura parava o tempo. —
De repente sobre as páginas lançou-se uma luz
e em vez da tímida confusão de palavras
estava: tarde, tarde... em todas elas.
Não olho ainda para fora, mas rasgam-se já
as longas linhas, e as palavras rolam
dos seus fios, para onde elas querem.
Então sei: sobre os jardins
transbordantes, radiantes, abriram-se os céus;
o sol deve ter surgido de novo. —
E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança:
o que está disperso ordena-se em poucos grupos,
obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoas
e estranhamente longe, como se significasse algo mais,
ouve-se o pouco que ainda acontece.
E quando agora levantar os olhos deste livro,
nada será estranho, tudo grande.
Aí fora existe o que vivo dentro de mim
e aqui e mais além nada tem fronteiras;
apenas me entreteço mais ainda com ele
quando o meu olhar se adapta às coisas
e à grave simplicidade das multidões, —
então a terra cresce acima de si mesma.
E parece que abarca todo o céu:
a primeira estrela é como a última casa.
Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens" Tradução de Maria João Costa Pereira
A Leitora
A leitora abre o espaço num sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da brancura.
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa.
Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco.
Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra.
Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento.
Desce pelos bosques como uma menina descalça.
Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva
em chama de água. Na imaculada superfície
ou na espessura latejante, despe-se das formas,
branca no ar. É um torvelinho harmonioso,
um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira
na sede obscura de palavras verticais.
A água move-se até ao seu princípio puro.
O poema é um arbusto que não cessa de tremer.
António Ramos Rosa, in "Volante Verde"
sexta-feira, 24 de abril de 2009
terça-feira, 21 de abril de 2009
Dia Mundial do Livro
23 de Abril (5ªf.)
O dia mundial do Livro e dos Direitos de Autor é comemorado na Faculdade de Letras com algumas actividades, incluindo uma Feira do Livro no Átrio da Biblioteca e uma Jornada onde se irão partilhar as palavras e as experiências.
JORNADA
“TROCA DE PALAVRAS: CONVERSAS EM TORNO DOS
AUTORES, DOS LIVROS E DAS BIBLIOTECAS”
10h00 – 18h00 Anfiteatro III
(inscrição prévia por e-mail)
ENTRADA LIVRE
CERTIFICADO DE PRESENÇA
MANHÃ
10h00 Abertura
Adelaide Serras, Professora
universitária, FLUL
10h15 O livro do mundo e a sua
legibilidade
Teresa Cadete, Professora
universitária, FLUL
10h50 As catedrais da literatura
Fernando Dacosta, Escritor
11h30 Pausa para café
11h50 O livro é reescrito pelo leitor
Casimiro de Brito, Escritor
12h30 A crítica literária
Fernando Martinho, Crítico literário
13h00-14h00 Almoço livre
TARDE
14h00 Ler e calar ou ler e partilhar
Gaspar Matos, Bibliotecário,
Biblioteca Municipal de Sines
14h30 Livros e leituras em ambiente
digital
Paulo Leitão, Bibliotecário,
Biblioteca de Arte da Fundação
Calouste Gulbenkian
15h15 O leitor e a biblioteca: uma
relação de intimidade
Maria Luísa M. Gama, Frequentadora
de bibliotecas, Mestranda na FLUL
16h00 Pausa para café
16h15 Produção gráfica e edição do
livro
João Costa, Professor universitário,
FLUL + Booktailors + Cavalo de
Ferro, Editores
17h15 A Comunidade de Leitores da
Biblioteca da FLUL: relação
com a missão das bibliotecas
universitárias
Lígia Mendes e Ana Filipa Neves,
Coordenadoras de Projecto,
Mestrandas na FLUL
17h45 Encerramento
Maria João Coutinho, Coordenadora
do Serviço de Difusão Cultural,
Biblioteca da FLUL
Informações e Inscrições:
bib.formacao@fl.ul.pt
Boas Leituras!
Anita
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