O Cavaleiro andou muitos anos. Andou por montanhas e planícies, rios e desertos. Sobreviveu à chuva, ao frio, ao calor, às tempestades. Andou sempre, nunca fraquejou no seu propósito de ir mais além, o sonho incutia-o a caminhar.
Faltava-lhe cerca de um metro para acabar uma etapa importante da viagem. Depois esperava-o novos desafios, novas montanhas, novas planícies, novos rios, novos desertos. Seria pior que este caminho? Seria melhor?
Faltava-lhe cerca de um metro para acabar uma etapa importante da viagem. Mas ele não sabia que faltava tão pouco. Uma nuvem muito densa de nevoeiro impedia-o de ver mais além. Esperou, queria que o nevoeiro dissipasse para seguir viagem. Permaneceu no mesmo sítio. Permaneceu no mesmo sítio muito tempo. Permaneceu no mesmo sítio muito tempo, quem sabe dias, ou meses, ou anos. Ele permaneceu.
E os seus pés que não estavam habituados a estar parados, pensavam que a sua função estava a chegar ao fim. Quase que já se tinham esquecido qual era. Andar? Já não andavam há muito, esqueceram-se dos procedimentos básicos.
Veio um ancião, do nevoeiro, e perguntou: – Porque não continuas a caminhada?
– O nevoeiro é denso. – Disse o Cavaleiro.
E o ancião insistiu: – Já falta pouco para esta etapa da tua viagem chegar ao fim. Porque não continuas a caminhada?
– Já não sei andar. – Respondeu o Cavaleiro.
E o ancião retorquiu: – Claro que sabes. Não fizeste tu outra coisa desde que te tornaste Cavaleiro. Andaste por montanhas e planícies, rios e desertos. Sobreviveste à chuva, ao frio, ao calor, às tempestades. Andaste sempre, nunca fraquejaste no teu propósito de ir mais além, o sonho incutia-te a caminhar. Porque estás aqui parado?
– Não posso continuar. – Disse o Cavaleiro.
– Essa não é a resposta.
– Eu sei que devo continuar. – Continuou o Cavaleiro.
– Essa não é a resposta.
– Eu quero continuar. – Concluiu o Cavaleiro.
E o ancião concluiu também:
– Se queres continuar, caminha.